Testemunhos do trabalho humanitário

Testemunhos de diferentes histórias sobre o trabalho humanitário com pessoas refugiadas na América Latina

ANA PAOLA RODRÍGUEZ

ANA PAOLA RODRÍGUEZ

Sensibilizar é como abrir uma porta a novos pensamentos e perspectivas

(de Ibarra, Equador - ACNUR)

Minha experiência com assistência humanitária começou no ano de 2006 colaborando com a população de refugiados que chegava ao Equador em busca de uma nova oportunidade para reiniciar suas vidas. O que mais marcou meu trabalho no ACNUR foram os olhares das pessoas refugiadas, através dos quais pude ver e sentir suas dores e confusões, e ainda assim, ver também esperança e desejo de integrar-se em um ambiente pacífico.

Desde meu local de trabalho, a Unidade de Programas do escritório do ACNUR, em Ibarra, pude observar muitas das tensões que existem entre os diversos atores locais no que diz respeito à situação dos refugiados no Equador. Por essa razão, considero que o trabalho de sensibilizar é parte de prover assistência e também a porta de entrada para gerar novos pensamentos e novas perspectivas na sociedade.

As atividades que realizo junto às agências associadas ao ACNUR são muito enriquecedoras para os refugiados e para mim, e isso nos motiva a continuar. Essa é a parte do trabalho humanitário que não consiste apenas em dar, mas também em receber.

Uma das atividades mais lindas e impactantes do meu trabalho foi elaborar alguns contos infantis para tentar mitigar, com palavras e desenhos, todas as inquietudes dos meninos e meninas recém-chegados. Os contos foram e são uma ferramenta prática e de muita ajuda para essa parte da população que é tão vulnerável e inocente.

ANA VARELA ESPONDA

ANA VARELA ESPONDA

É necessário aceitar e compreender a diversidade de experiências de vida que cada pessoa refugiada leva consigo

(de Montevidéu, Uruguai – ex-diretora da Agência Implementadora SEDHU)

O trabalho com pessoas refugiadas requer dedicação e compromisso, já que cada uma dessas pessoas vem de uma situação e cultura diferentes das que encontram no país de acolhida. É necessário que quem realiza um trabalho humanitário esteja disposto a aceitar e compreender a diversidade de experiências de vida que cada pessoa refugiada leva consigo, e isso inclui entender a dor da separação de seus entes queridos, o medo da perseguição sofrida, o temor de que ela volte a se repetir, a falta de uma estrutura social que os sustente e os contenha, e milhares de pequenas coisas que só aprendemos a valorizar quando não as temos.

O trabalho com pessoas refugiadas também requer que, em determinados momentos, se estabeleçam limites, como forma de estimular os refugiados na compreensão do novo universo ao qual eles têm que se inserir, promovendo e aumentando sua auto-estima. Outro elemento que pude perceber ao longo dos meus anos de experiência, é que algumas pessoas refugiadas aproveitam as oportunidades que se apresentam no país de acolhida melhor do que outras. Isso não acontece porque alguns sejam melhores do que outros, mas porque cada ser humano é diferente e possui dons e possibilidades distintas, e portanto, quando trabalhamos com eles, devemos ter em conta que não se pode pedir o mesmo a todos. Eles (as pessoas refugiadas) sempre te surpreendem, te ensinam algo, te enriquecem.

A razão pela qual comecei o trabalho com pessoas refugiadas se deve a que, como católica, meu compromisso com o mundo implica em pregar que todos os seres humanos são irmãos e, como tal, nos devemos respeito e compaixão. E as pessoas refugiadas são as que mais necessitam de apoio e acolhida.

Uma das partes mais importantes e que eu gostaria de destacar sobre o meu trabalho com as pessoas refugiadas, é que tive o privilégio de contar com uma equipe formada por profissionais de diferentes áreas do Serviço Ecumênico para a Dignidade Humana (SEDHU) com quem compartilhei o compromisso, a solidariedade e a entrega.

CAROLINA MATEOS

CAROLINA MATEOS

Ajudar em meio à vulnerabilidade

(no México- ACNUR)

Desde novembro de 2007 trabalho na área de Proteção do ACNUR, no México. Anteriormente trabalhei na República Democrática do Congo e desde o México estive em missão de emergência na República Dominicana e no Haiti. Escolhi trabalhar com o ACNUR porque me interessa e me motiva poder ajudar as pessoas que se encontram em situações de vulnerabilidade, fora de seus lares e em situações de deslocamento, mas lutando para restabelecer as condições de uma vida digna.

Uma história da qual me lembro sempre é a da organização de uma repatriação massiva de refugiados sudaneses, que viviam na República Democrática do Congo, para o sul do Sudão, quando pude ver a milhares de refugiados subirem em um caminhão com sorrisos nos rostos. Também pude presenciar o reencontro com suas famílias depois de muitos anos de distância, ver as lágrimas, escutar os gritos de alegria e especialmente a felicidade deles de voltar para casa e sentir que voltavam para ficar.

Atualmente, um dos principais desafios que encontro no México é o desconhecimento de quem são os refugiados e quais são suas necessidades. Especialmente, as pessoas desconhecem o contexto de como chegam ao México, pois viajam dentro de uma população migrante numerosa e passam despercebidos por estar indocumentados ou em trânsito. A principal preocupação é visualizar a população refugiada que viaja dentro desses movimentos migratórios. Dentro dessa população há um desafio importante representado pelas crianças que viajam desacompanhadas e que estão em uma situação de risco ainda maior. Também há as vítimas de tráfico e o desafio de detectar o fato de que poderiam necessitar de algum tipo de proteção internacional e de que poderiam ser refugiadas, coisa que em muitos casos, as próprias vítimas desconhecem.

ELBA LABRADOR

ELBA LABRADOR

Três décadas de vida na vida dos refugiados

(de Buenos Aires, Argentina – Trabalhadora social da Agência Implementadora FCCAM)

Quantas histórias ao longo de 31 anos passados junto aos refugiados! No começo, acompanhei o caso de pessoas idosas, em sua maioria refugiados do Leste Europeu. Trabalhando no Lar Santa Rita, criado para essas pessoas e onde se alojavam húngaros, polacos, ucranianos, croatas, russos, etc, recolhi seus depoimentos saudosos de suas terras natal e desenvolvi muitas atividades para tentar amenizar a falta de familiares e amigos.

Ao mesmo tempo tive a oportunidade de receber e acompanhar casos de refugiados de países limítrofes (chilenos e uruguaios), que chegaram em momentos difíceis na Argentina também. Realizando um trabalho silencioso com eles, posso dizer que participei do encerramento de uma etapa, pois estive envolvida nos processos de repatriação na medida em que a democracia regressava à política desses países. Que melhor momento para acompanhar sentimentos de ansiedade, alegria e temor pelo regresso depois de anos de exílio?

Algumas passagens me trazem recordações graciosas como as dificuldades idiomáticas para algumas conjugações. Lamentavelmente, também presenciei alguns funerais junto a eles e pude ver seus costumes e um conceito de morte distinto do pensamento ocidental.

Algumas famílias tiveram filhos e os nomearam, por exemplo, de Malvina Argentina. Os leitores se dão conta da etapa histórica que vivíamos? O que será que passava por seus pensamentos?

Depois foram chegando os refugiados africanos. Os primeiros como clandestinos. Coube-me, então, a tarefa de alojá-los, comprar a primeira comida deles. Não posso esquecer suas caras de assombro misturadas a um olhar com certa tristeza. Oferecer-lhes um abrigo e uma taça de café, porque chegavam a um país muito frio, foi muito gratificante.

Escutar, dar um abraço, dividir um doce.. Rir e chorar junto com eles nos momentos mais difíceis de encarar, ouvir quando me chamam "Mamá Elba"... Me sinto privilegiada por ter podido compartilhar tantos anos e ao mesmo tempo observar como, depois dos primeiros momentos tão sofridos por conta da separação, puderam encontrar seu caminho.

ELIZABETH CABALLERO

ELIZABETH CABALLERO

No trabalho humanitário se dá e se recebe

(de Esmeraldas, Equador – ACNUR)

Desde 1991 estou fora de meu país, o México, trabalhando em diferentes lugares como El Salvador e Guatemala, com organizações que lidam com refugiados e repatriados. Em El Salvador trabalhei com organizações desse tipo, e temporariamente na operação do ACNUR. Na Guatemala, fiz parte da missão de paz das Nações Unidas, batizada de MINUGUA.

Atualmente trabalho em Esmeraldas, no Equador. Localizada no norte do país, Esmeralda faz fronteira com a Colômbia, de onde todos os dias chegam pessoas buscando refúgio para construir uma nova vida, longe da violência.

O trabalho humanitário oferece apoio a homens e mulheres em situação de risco e alta vulnerabilidade, e, em muitos casos, se mostra imprescindível para aliviar e facilitar a superação dessas situações. Entretanto, também encontrei um importante benefício pessoal ao conhecer muitas experiências que são verdadeiras lições de vida, luta e sobrevivência. Em especial, as mulheres, que nos casos de conflito, violência e situações adversas, sempre são as mais vulneráveis.

EVA GARCÍA

Às vezes se sente como Davi atirando pedras em Golias

(de Maracaíbo, Venezuela – ACNUR)

É difícil começar a escrever sobre o que significa trabalhar com refugiados, mas em uma tentativa, a primeira palavra que me vem à cabeça é "sorte". Depois de vários anos me dedicando a tentar melhorar uma milésima parte da vida dessas pessoas, ainda me vejo pensando na oportunidade espetacular que a vida me dá de poder fazer um trabalho que gosto tanto, e que ao mesmo tempo contribui para fazer do mundo um lugar um pouquinho mais justo. E digo somente um pouquinho, porque apesar do esforço e das boas intenções (e das frustrações!), por vezes nos sentimos como um diminuto Davi lançando pedras em um inabarcável mundo-Golias.... e, mesmo assim, como é importante seguir tacando pedras! Sinto, de todo o meu coração, que é esse pequeno trabalho de tantos homens e mulheres o que dá ao mundo uma cara mais humana, e que devolve a esperança a muitos que a perderam pelo caminho.

Nesta semana me deparei com a poesia de Jorge Debravo, que tão bem descreve a necessidade de justiça que move homens e mulheres a lutar por um horizonte mais amplo. Aqui lhes deixo uma passagem:

"Quero fazer com os braços

Um só doce braço

Que cerque toda a terra

Eu desejo acima de tudo, que a vida seja nossa

Como a água e o vento.

Que ninguém tenha nunca mais terra que o vizinho.

Que ninguém diga mais a minha propriedade,

mas senão a nossa propriedade, de Nós os Homens".

FERNANDO PROTTI-ALVARADO

FERNANDO PROTTI-ALVARADO

Sobre a integração, os retornos e a consciência da mortalidade

(no México- ACNUR)

Atualmente desempenho a função de Representante do ACNUR no México, mas comecei a trabalhar com a organização na Costa Rica – que naquele momento acolhia 250 mil refugiados nicaragüenses -, com o desenvolvimento e planificação de assentamentos para eles. Trabalhei, também, em Honduras em 1988 em um projeto de integração local para refugiados nicaragüenses e na Nicarágua com o processo de reintegração dos nicaragüenses repatriados.

Após alguns anos em Genebra, onde estive no cargo de supervisor dos programas para a Europa Ocidental e posteriormente para Turquia, Geórgia, Armênia e Azerbaijão, regressei ao México em 1997 com a finalidade de organizar o retorno de refugiados guatemalenses. Em abril do ano 2000 fui para a Indonésia, o que me permitiu conhecer uma cultura muito diferente da ocidental. Ali tínhamos um programa muito grande, já que em somente um mês, dezembro de 1999, cerca de 65 mil refugiados regressaram voluntariamente do Timor Ocidental para o Timor Leste. Durante minha missão nessa região ocorreu a chacina de Atambua, que me marcou para o resto da vida:  eu estava em missão no Timor Ocidental, a 100 Km da oficina onde foram assassinados três funcionários do ACNUR pelas milícias armadas. Até aquele momento, e como vários outros colegas, eu pensava que as pessoas das Nações Unidas eram inatingíveis, como uma espécie de superman. Foi lá que tomamos consciência dos riscos de segurança dos trabalhadores humanitários.

No ano de 2003 fui para a Etiópia, onde trabalhei no programa mais satisfatório para mim. No norte tínhamos pessoas que chegavam da Eritréia e havia que abri acampamentos; no Leste – na fronteira com a Somália – tínhamos a repatriação de somalis e o fechamento de acampamentos; no Oeste, programas de atenção e repatriação para refugiados sudaneses e um programa de reassentamento para eritreus. Depois de alguns anos em Zâmbia, em 2009, regressei ao México, onde o trabalho de proteção aos refugiados está vinculado a movimentos migratórios, e onde encontrei novos desafios com a presença de refugiados em zonas urbanas.

FRANCESCA FONTANINI

FRANCESCA FONTANINI

Não há ajuda humanitária sem trabalhadores humanitários

(de Bogotá, Colômbia – ACNUR)

Faz dez anos que trabalho com o ACNUR, e isso me deu a oportunidade de participar de várias missões de emergência em Serra Leoa, Libéria, República Democrática do Congo, Timor, e agora na Colômbia, encarregada da informação pública na região.

Depois de todas essas experiências, reconheço que há uma forte preocupação por parte de meus colegas pelo aumento da insegurança que enfrentam os trabalhadores humanitários que atuam em zonas de crise e pelas dificuldades de acesso da ajuda humanitária a esses locais. Por exemplo, na minha experiência recente no Congo, onde acontece uma das maiores operações humanitárias do mundo, os trabalhadores humanitários são alvos de ataque cada vez mais freqüentes e, por vezes, bastante violentos. Além disso, a insegurança faz com que aumentem os custos das operações de assistência, já que muitas vezes é preciso recorrer à escoltas armadas para acompanhar comboios de caminhões ou navios com ajuda. Em geral, nas operações na África, se deve recorrer à aviões, para evitar utilizar estradas perigosas, o que encarece o transporte de ajuda alimentícia e faz com que o espaço para os trabalhadores humanitários seja cada vez mais restrito.

Neste dia, eu gostaria de homenagear os trabalhadores humanitários que morreram no exercício de seu trabalho. Não se deve prejudicar os civis e nem aos trabalhadores humanitários que se dedicam a ajudar. Não há ajuda humanitária sem trabalhadores humanitários.

LUIS VARESE

LUIS VARESE

Ser trabalhador humanitário é ter sorte

(Em Quito, Equador – ACNUR)

O trabalho humanitário é, se você tem um compromisso real, a forma mais satisfatória de trabalho nas Nações Unidas. Embora você possa ter experiências graves e traumáticas, ajudar a salvar vidas, melhorar as condições de produção e alimentação ou de estudo, ou simplesmente estar ao lado de mulheres e crianças que desfrutam dos resultados, é impagável. É o espaço onde mais claramente se tem a sensação de dever cumprido.

Os principais desafios que enfrentei no trabalho humanitário foram a missão no Haiti, em Nicarágua, a abertura do escritório no Timor Leste com a condução do primeiro comboio humanitário na pequena e sofrida ilha e, finalmente, o trabalho com os refugiadas e refugiados colombianos no Equador. Sem modéstia nenhuma, acho que em todos os casos, conseguimos levar algo e fazer o melhor uso dos recursos, transferindo-os para a população.

LUIZ FERNANDO GODINHO

LUIZ FERNANDO GODINHO

Todos podemos ajudar a nutrir a esperança dos refugiados

(Em Brasília, Brasil – ACNUR)

Na minha função, eu busco dar visibilidade ao trabalho de ajuda humanitária do ACNUR e seus parceiros no Brasil, um país que abriga mais de 4.200 refugiados de 76 nacionalidades distintas. Uma das experiências mais impressionantes para mim foi em Setembro de 2007, quando chegou ao país o primeiro grupo de refugiados palestinos provenientes da Síria e que hoje vivem reassentados no Brasil.

Homens, mulheres e crianças, que chegaram no Aeroporto Internacional de São Paulo, estavam vivendo há quatro anos em um acampamento de refugiados, localizado no deserto sírio. Não havia nenhuma perspectiva de integração local ali e mal tinham recursos para as suas necessidades de saúde e educação. Assustados e curiosos, começaram uma nova fase das suas vidas. O grupo foi muito bem recebido, apesar das dificuldades da vida como refugiado, e seguem avançando no processo de integração no Brasil.

Outro momento especial foi uma missão para a tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru, em abril de 2010, para avaliar os riscos de deslocamento de colombianos que fogem do conflito interno de seu país para o Brasil e ver a situação dos solicitantes de asilo do Haiti que continuam chegando ao Brasil, após o terremoto que destruiu aquele país no começo de janeiro. Brasil, um país sem conflitos armados e com baixa incidência de desastres naturais, tem uma posição solidária para receber pessoas que precisam de proteção internacional e ajuda humanitária. A participação da sociedade civil confirma que todos nós, não importa qual seja nosso papel social, podemos ajudar àqueles que necessitam ter uma nova esperança para reconstruir suas vidas com dignidade e respeito aos Direitos Humanos.

NÉLIDA BRITEZ

NÉLIDA BRITEZ

É uma grande satisfação poder ver as pessoas se beneficiam do seu trabalho

(em Buenos Aires, Argentina- ACNUR)

Faz mais de dez anos que trabalho com o ACNUR na área de administração no Escritório Regional da Argentina. Meu trabalho é realizado nos bastidores, oferecendo apoio desde Buenos Aires a toda a operação nos seis países cobertos pelo escritório.

Desde meu início no ACNUR, sempre quis participar em uma missão no “terreno”, e é assim como me imaginei ao me inscrever na lista de emergências. Entretanto, o trabalho diário e o crescimento das responsabilidades no escritório, além da minha situação familiar, foram adiando essa experiência. Finalmente, logo depois de algumas negociações familiares e profissionais, no ano passado entrei na lista de emergências da América Latina (ELAE – Equipe Latino-Americana de Emergências). Em 19 de fevereiro fui contatada para formar parte da Equipe de emergências que foi para a República Dominicana para apoio às vítimas do terremoto no Haiti, ocorrido no dia 12 de janeiro. Estive ali quase dois meses cumprindo as funções de administração e logística, principalmente.

Foi um desafio que cumpri com grande entusiasmo e com o qual aprendi muito sobre como trabalhar em um contexto distinto do existente no meu país e com uma equipe interagêncial composto por pessoas com diferentes perfis e culturas. A missão também me ensinou sobre o valor do trabalho em equipe e a importância de manter um bom ânimo e humor nas situações de stress e cansaço. Além da experiência e do aprendizado, me senti muito bem formando parte da equipe do ACNUR e orgulhosa do trabalho que essa agência faz em situações de emergência.

Uma lembrança gratificante que tenho é a de ter participado na entrega do primeiro Projeto de Impacto Rápido em Fonds-Verrettes, depois de ter organizado a logística do mesmo: foi como formar parte do processo. Também me lembro com muito carinho das visitas realizadas a um Abrigo para crianças em Santo Domingo, que acolhia crianças haitianas vítimas do terremoto que se encontravam em tratamentos de reabilitação.  Fiquei surpreendida positivamente com o poder de recuperação das crianças e a força de seus familiares, os quais estavam ali dando apoio apesar das perdas afetivas e matérias que tinha sofrido.

Essa missão me ajudou a trabalhar perto das pessoas afetadas pelo terremoto e portanto, das pessoas de interesse do ACNUR. Foi gratificante poder ver as pessoas que se beneficiam do seu trabalho.

PADRE ALFONSO BAEZA

PADRE ALFONSO BAEZA

É um grande desafio mudar a atitude das comunidades de acolhida

(Em Santiago, Chile. Ex-vigário da agência implementadora da Pastoral Social e dos Trabalhadores)

Trabalhar com refugiados foi uma coisa nova aqui no Chile: mesmo que muitos chilenos  tenham se refugiado em tempos de ditadura no exterior, não tinhamos feito tal tarefa e eu acho que para a sociedade chilena e a Igreja do Chile foi importante essa preocupação com o irmão que tenta salvar sua vida, porque em sua pátria ou na sua terra é perseguido e não têm segurança. É uma oportunidade para sensibilizar, porque muitas pessoas pensam "os refugiados vem tirar nosso trabalho, somos tão pobres quanto eles" ou " muitos deles já tem trabalho". Nesse sentido, é muito importante trabalhar para uma tomada de consciência dessa realidade.

Houve também situações que nos ensinaram muitas coisas. Como por exemplo, o primeiro reassentamento de refugiados da antiga Iugoslávia que chegou ao Chile no final dos anos 90. Eles vieram com muitas expectativas. Queriam ir a um país desenvolvido e o Chile era diferente do que eles imaginavam. Essa experiência nos ajudou a entender que nós temos que preparar mais os refugiados e também as equipes que trabalham com eles. Foi um desafio para a equipe do Vicariato.

PATRICIA R0SERO

PATRICIA R0SERO

O meu trabalho é ajudar a fincar raízes  

(Em Tulcan, Equador -  ACNUR)

Durante vários anos, eu tive a oportunidade de trabalhar com ajuda humanitária, especialmente com a população de refugiados no Equador. A principal satisfação que este trabalho me deu foi nas vezes em que eu pude ver o sorriso e o brilho nos olhos de muitas crianças, mulheres e homens, demonstrando, assim, a gratidão depois de receberem alguma assistência.

Os refugiados têm capacidades, habilidades e conhecimentos específicos e, enquanto dura o deslocamento, são essas suas únicas provisões. Meu trabalho é apoiar e motiva-los a criar raízes novamente, fornecendo ferramentas de trabalho para que eles continuem lutando para conseguir uma integração positiva no país e, portanto, ser capazes de contribuir com seus conhecimentos e experiências, algo que ninguém pode tirar.

RUBÉN BARBADO

RUBÉN BARBADO

Às vezes, é apenas uma questão de dar um empurrãozinho

(Em Guasdualito, da República Bolivariana da Venezuela - ACNUR) 

Estou há mais de um ano e meio trabalhando em Guasdualito. Nós cobrimos Apure, fronteira do estado com a Colômbia, de onde provém a maioria da população de refugiados para os quais trabalhamos. Como advogado, me dedico a aconselhá-los sobre seus direitos e fazer oficinas para que as autoridades e as comunidades também os conheçam.  É que frequentemente eles passam longos períodos confinados ilegalmente em comunidades fronteiriças, com grandes carências.

Meu primeiro contato com os refugiados foi aos 18 anos, quando um casal de iranianos-armênios estava perdido em minha cidade natal, Alcobendas (Madri), e solicitou ajuda para a minha mãe, que, por sua vez, me pediu para traduzir o que diziam porque ela não falava Inglês. Resultava que eles estavam vivendo em um Centro de Acolhida para Refugiados (CAR). Nós os acompanhamos e os visitamos muitas vezes. Uma tarde, nos prepararam um café grosso, no estilo armênio, e leram a borra de café para mim. Eu não suspeitei que aquela profecia de inúmeras viagens se cumpriria. 

Fazer o que a gente gosta é importante, especialmente porque, como advogado, você pode sempre ter ofertas salariais mais interessantes. Para mim, compensa ver como algumas das pessoas que tiveram que fugir de suas casas com o pouco que podiam levar e, tendo perdido suas famílias, vão seguindo adiante, conseguindo trabalho, retomando a iniciativa e decidindo o que fazer com suas vidas. Isso mostra o quão forte nós somos como seres humanos se apenas nos é dado um empurrãozinho. E é isso que eu penso que nós estamos fazendo aqui: ajudando-os com suas vidas... Ao fazer isso, eu me sinto feliz, mesmo neste confim de mundo chamado Guasdualito. 

VÍCTOR BANGUERA

VÍCTOR BANGUERA

Não há tempo para suavizar histórias 

(Em Sucumbíos, Equador - ACNUR) 

Há quase nove anos estou trabalhando com os refugiados. Desde os 18 anos, na província de Sucumbíos na fronteira nordeste entre o Equador e a Colômbia. No início, quando as pessoas que fugiam do conflito colombiano começaram a chegar, nós estávamos diante de um fenômeno novo para o qual não havia nenhuma infra-estrutura ou recursos. Foi necessário somar os esforços das organizações locais. E foi assim que eu comecei o meu trabalho, quase por acidente. 

Com o tempo, nós desenvolvemos redes de segurança e conhecemos as comunidades fronteiriças. Foi uma experiência rica, mas também muito dura. Lembro da primeira vez que fizemos uma missão ao rio. Não sabíamos quanto tempo se levava para alcançar as comunidades nem tínhamos equipamento adequado, inclusive fomos sem botas. Nós não sabíamos que, no calor da selva, os mosquitos são tão tenazes quanto o sol ou a chuva ... No entanto, encontrar pessoas, seguir seus casos, apresentar soluções e apoio, é muito gratificante e dá sentido ao trabalho que fazemos.

Em todos esses anos, eu aprendi a entender as pessoas, a ouvir e a compartilhar com colegas de diferentes nacionalidades sobre suas experiências. Apesar de viver e trabalhar na minha cidade, perto da minha família, a possibilidade de ter contato com pessoas de todo o mundo é uma oportunidade inigualável. Hoje eu tenho 27 anos e, às vezes, digo que sou a "memória histórica" do escritório. 

Apesar de ter conhecido tantas pessoas, tantas histórias, a parte mais difícil continua sendo as situações que os refugiados enfrentam, as necessidades que eles têm em seu dia-a-dia, os desafios de conseguir realmente ter acesso a direitos que lhes são assegurados por lei. Mesmo com o passar dos anos, é ainda chocante ouvir suas histórias.

WELLINGTON PEREIRA CARNEIRO

WELLINGTON PEREIRA CARNEIRO

Não somos super-heróis, mas apenas pessoas que optaram pelo trabalho humanitário

(Em Brasília, Brasil – ACNUR)

Em toda a minha experiência com o Acnur, a mais marcante foi a operação de emergência na fronteira do Chade com Camarões, após o cerco à capital daquele país, que se transformou em um grave conflito interno. Nessa operação, as condições climáticas eram às vezes duras e também a situação de insegurança, o risco de doenças como a malária e outras circunstâncias que esgotavam as capacidades físicas e psicológicas, fazendo com que muitos trabalhadores ficassem doentes. Naquela e em outras circunstâncias, nossa maior força foi o apoio mútuo, porque a solidariedade dos colegas é fundamental para enfrentar os desafios das operações humanitárias dificéis.

Acredito que o perfil dos trabalhadores humanitários varia muito. A verdade é que somos pessoas como qualquer outra, mas que escolhemos o trabalho humanitário, que é muito gratificante, mas também muito sacrificado. Em contraste com os elogios que, por vezes, gentilmente nos dão, não somos " super-pessoas", mas seres humanos com necessidade da humanidade, daí a preocupação com o bem-estar emocional dos colegas e a importância do apoio mútuo.