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Tecnologia telefônica oferece esperança aos refugiados em Uganda

Acordos com operadoras de telecomunicações estão ajudando as famílias sul-sudanesas no maior acampamento de refugiados do mundo a se conectarem a serviços essenciais.

BIDIBIDI, Uganda, 17 de outubro de 2017 - Brian Dinga, sua cunhada e seus seis filhos foram forçados a fugir de sua casa no Sudão do Sul em setembro de 2016 depois que seu irmão foi morto a tiros na guerra.

Eles atravessaram a fronteira da Uganda e foram acomodados no maior acampamento de refugiados do mundo, Bidibidi, onde eles batalham para seguir em frente sob duras condições. Brian, 62 anos, não tinha emprego nem dinheiro, e as perspectivas para a família não eram boas.

Um telefone celular doado deu-lhes esperança. Brian foi identificado pela organização não-governamental DanChurchAid como vulnerável e agora recebe uma transferência eletrônica de dinheiro, através do telefone doado, para comprar comida para sua família.

"Recebo 10 dólares por mês, que são enviados para mim no meu telefone, e podemos comprar o que quisermos", diz ele. "Nós gastamos com comida, comprando peixe, arroz e vegetais. Nós até compramos uma galinha para que possamos comer ovos".

Mais de um milhão de pessoas do Sudão do Sul foram forçados a fugir para o norte da Uganda no ano passado e o país acolhe ao sul mais 355 mil refugiados de outros países.

Os refugiados corriam risco de ficar para trás da revolução digital, especialmente aqueles de áreas rurais onde a conectividade é pobre.

Jens Hesemann, coordenador de campo sênior do ACNUR, disse que a Agência de Refugiados da ONU estava buscando novas formas para que os refugiados usassem a tecnologia para se reunirem com os membros da família, ter acesso à educação e empregos e até mesmo pedir assistência proteção.

"Esperamos que eles possam definir seus próprios destinos e se tornem menos dependentes das agências humanitárias".

O ACNUR recorreu ao setor privado para obter ajuda. No início do ano, fez acordos com as operadoras de telefonia móvel ugandense MTN, Africell e Airtel para fornecer conectividade para os acampamentos do norte.

Em julho, a MTN substituiu uma torre móvel em Bidibidi por uma torre permanente para fornecer conexão de telefonia móvel para mais de 500 mil refugiados e para a comunidade de acolhida. A Africell instalou outra torre móvel no assentamento vizinho de Imvepi para aumentar a recepção para mais 200 mil pessoas.

Zein Annous, executivo-chefe da Africell, disse que a empresa estava "seguindo a generosa iniciativa política do governo em relação aos refugiados" vendendo aparelhos celulares nos assentamentos a preços reduzidos e fornecendo cartões SIM gratuitamente.

"Fornecer serviços de telecomunicação aos refugiados é um negócio, mas também o vemos como parte de nossa responsabilidade corporativa", disse ele. "Queremos melhorar vidas de forma sustentável".

Trabalhar com o setor privado para fornecer conectividade e melhorar o apoio aos refugiados é um dos temas-chave de uma nova resposta abrangente a ser aplicada em Uganda e está entre os temas discutidos em uma conferência de dois dias em Genebra esta semana, projetada para encontrar formas de fortalecer a resposta internacional aos refugiados.

Um refugiado do Sudão do Sul compra uma antena de um vendedor de telefonia móvel no campo de Imvepi, ao norte de Uganda, para fazer em contato com sua família. © ACNUR / Catherine Robinson.

A reunião, que acontece entre os dias 17 e 18 de outubro, visa elaborar sugestões para um programa de ação, que fará parte de um novo pacto global sobre refugiados. O Alto Comissário para os Refugiados teve a tarefa de desenvolver um acordo global sobre os refugiados na Declaração de Nova York para Refugiados e Migrantes do ano passado na Assembleia Geral da ONU.

Um painel irá considerar como conseguir uma maior eficácia na ajuda humanitária, como por meio da assistência financeira e garantindo que os refugiados estejam conectados.

Propõe-se que o programa de ação possa incluir formas de trabalhar com provedores de internet e de serviços móveis, por exemplo, para garantir que os refugiados tenham acesso ao serviço de celular e à internet a um custo razoável.

Com cinco setores em expansão, a conectividade é crucial em Bidibidi, que tem uma população maior do que a maioria das cidades ugandesas e se estende por uma área de 250 quilômetros quadrados.

O ACNUR está fornecendo telefones para representantes de refugiados para que eles possam informar sobre questões como proteção, abastecimento de água e outros serviços.

Abed Beligeya, 21 anos, usa seu telefone para fazer chamadas para o resto da família no Sudão do Sul. "Meu pai está doente e não tem acompanhamento médico", disse ele. "É caro, então eu só ligo duas vezes por mês para ter certeza se todos estão bem".

A MTN e a AirTel firmaram parceria com ONGs como a DanChurchAid, a Mercy Corps e o Comitê Internacional de Resgate para transferir dinheiro para refugiados com necessidades específicas, como idosos, pessoas com deficiência, mulheres grávidas e amamentando e famílias encabeçadas por mulheres.

Sarah Kiden, 19 anos, seu marido e seu bebê de quase dois anos chegaram em Bidibidi vindos do Sudão do Sul em setembro de 2016. Ela é uma das 12 mil refugiadas que recebem dinheiro para comprar comida da DanChurchAid, usando um voucher eletrônico mensal fornecido pela AirTel.

"Antes de receber o cartão, era um desafio manter uma dieta equilibrada, vivíamos a base de feijão apenas", disse ela. "Foi difícil para mim produzir leite e meu bebê era muito magro. Agora eu posso comprar comida fresca, como carne e verduras. A saúde da minha menina melhorou e ela está muito bem".

Uma melhor conectividade telefônica também está tendo um efeito positivo sobre a vida das pessoas locais nas comunidades de acolhida, que doaram terras para refugiados.

Bako Diana, 32 anos, da cidade vizinha de Yumbe é uma dos quatro ugandeses que foram treinados pela DanChurchAid para usar o cartão eletrônico. Ela vende frutas e vegetais diretamente para refugiados usando os cartões.
O ACNUR, as ONGs e as operadoras de telefonia têm planos para que mais torres sejam construídas nos assentamentos do norte de Palabek, Pagorinya e Rhino. A DanChurchAid e a Mercy Corps planejam distribuir 21 mil telefones em Bidibidi até o final do ano. O ACNUR distribuirá 1.500 smartphones aos refugiados no sul do Burundi, na República Democrática do Congo e em Ruanda.

Ao custo de 12 dólares por telefone, estar conectado era muito caro para Brian Dinga e sua família. Agora, podendo fazer compras utilizando o telefone doado, ele não depende mais da distribuição humanitária de alimentos e a vida é mais digna.

"Agradeço a Deus pelo dinheiro que recebemos, e se pudéssemos obter um pouco mais, seria a resposta para todas as minhas orações".