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Chefe do ACNUR pede união em Mianmar

Filippo Grandi se encontra com moradores do estado do Arracão para melhor entender suas necessidades e desafios.

MAUNGDAW, Mianmar, 10 de julho de 2017 – O Alto Comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi, fez um apelo às comunidades residentes do estado do Arracão, em Mianmar, para se unirem na luta contra o medo, desconfiança e o subdesenvolvimento. Na primeira visita oficial ao Sudeste da Ásia, Grandi se reuniu com pessoas deslocadas, comunidades locais e autoridades nas cidades de Sittwe e Maungdaw para melhor entender suas necessidades e desafios.

Em outubro de 2016, cerca de 20.000 pessoas foram deslocadas nos arredores de Maungdaw em uma operação de segurança contra diversos ataques em postos de fronteira. Grande parte retornou aos seus lares, mas muitos permanecem acolhidos por membros das vilas locais, e dependem de acordos que ofereçam a possibilidade de retornou e locais para relocação. Na região de Sittwe, 120.000 pessoas continuam em campos que abrigam deslocados internos após perderem seus lares em meio a violência entre as comunidades, que estourou em 2012.

Massota Hatu morou no campo de Sittwe’s Dar Paing por cinco anos, lidando com problemas de saúde que não tinha condições de tratar. Só dois de seus quatro filhos estão na escola, já que não existe ensino médio no campo. “É muito difícil”, afirmou a viúva de 55 anos. “O que mais desejo é voltar à minha vila para que possamos melhorar nossas vidas”.

Como muitos muçulmanos no estado do Arracão, pessoas apátridas não podem se deslocar livremente sem autorização e tampouco têm facilidade em acessar serviços básicos como saúde, educação e meios de vida.

“Essas pessoas merecem um futuro melhor do que as condições atuais de extrema pobreza, escassez e isolamento. Precisamos sair do modo de sobrevivência para a vida real com oportunidades”, disse o Alto Comissário. “É uma situação de alta complexidade, mas é possível trabalhar em direção a soluções’.

Em março, um relatório provisório feito pela Comissão Consultiva indicada pelo governo para o estado do Arracão indicou ações para acabar com o deslocamento e promover diálogo entre as comunidades. O governo aprovou o relatório concordou em implementar as recomendações.

Não será fácil – o clima em Maungdaw continua tenso após os conflitos de outubro, alegadamente promovidos por membros de um grupo de milícia.

Na terça-feira (4), quando Grandi encontrou-se com moradores da etnia Rakhine que moram ao lado de uma comunidade muçulmana em Maungdaw, disseram-lhe que as comunidades costumavam viver e trabalharem juntas. “Mas depois dos conflitos de outubro, ficamos com medo de sair de nossas casas e buscar madeira ou peixe para sobreviver. Nossos filhos não estão indo à escola. Precisamos de ajuda até que a situação melhore”, informou um líder comunitário.

O Alto Comissário encorajou que as duas comunidades voltem a dialogar. “Vocês têm os mesmos medos por suas famílias, e as mesmas ansiedades em relação a como vão cuidar delas”, ele disse. “Ajuda humanitária é importante, mas não vai durar para sempre. Ao aprender a viverem juntos em paz, poderão pavimentar o caminho da prosperidade e do desenvolvimento”.

Moradores do vilarejo de Rakhine no norte de Maungdaw compartilham seus medos com o Alto Comissário. © UNHCR/Roger Arnold

Em Maungdaw, Grandi visitou um projeto apoiado pelo ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, que promove a coexistência pacífica por meio de aulas de treinamento vocacional. 20 mulheres muçulmanas e Rakhine se reúnem para aprenderem a costurar e se alfabetizarem, assim como cuidados básicos de saúde e higiene. Apesar de aparentarem ter pouco em comum, muitas dessas mulheres carecem em educação e tiveram que largar a escola para auxiliar suas famílias.

May Than New, de 23 anos, abandoou a escola primária porque seus pais não conseguiam custear seus estudos. Ela vendia combustível em uma loja antes de frequentar as aulas de costura. Agora, ela planeja trabalhar como alfaiate e ensinar costura após a graduação.

“Meus pais sempre receberam amigos muçulmanos em nossa casa, e acreditamos que a discriminação só traz problemas”, ela disse. “Essa aula me ajudou a melhor entender meus amigos muçulmanos”.

Sua colega Somira, de 19 anos, acrescentou: “Não conhecia nenhum Rakhine antes, mas agora fiz algumas amizades na aula”.

O ACNUR também ajudou a montar um mercado no centro de Maungdaw, onde cerca de 2.000 famílias muçulmanas, rakhines, hinduístas e de outros grupos minoritários podem ir para pegar seus insumos diários de comida e socializar. Questionado sobre o que poderia melhorar suas vidas, um morador muçulmano de uma vila em Maungdaw afirmou: “Só queremos viver pacificamente, ter um cartão de identidade e os mesmos direitos que os outros”.

Na quarta-feira, o Alto Comissário encontrou-se com o Conselheiro de Estado do Mianmar, Aung San Suu Kyi, e outros ministros para discutir a situação do Estado do Arracão, o deslocamento em Kachin e no Norte de Shan, assim como o potencial de refugiados da etnia Karen voltarem da Tailândia a seus lares voluntariamente.

De Mianmar, Grandi irá para a Tailândia e Bangladesh para discutir questões sobre refúgio nos dois países, antes de encerrar sua viagem regional no dia 11 de julho.