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Judoca do Time Olímpico de Refugiados conquista prata no Campeonato Carioca e sonha com Tóquio 2020

Foi a segunda medalha do congolês Popole Misenga após sua participação nos Jogos do Rio 2016. Yolande Mabika, que também disputou as Olimpíadas como refugiada, aposta em nova categoria.

Rio de Janeiro, 23 de maio de 2017 - A inscrição que os judocas Popole Misenga e Yolande Mabika levavam às costas quando entraram no tatame para disputar o Campeonato Carioca de Judô, no último fim de semana, indicava que eles não eram competidores quaisquer. A sigla ROT – Refugee Olympic Team, ou Time Olímpico de Refugiados – lembrava aos adversários e espectadores que, nove meses antes, a dupla havia participado da disputa mais importante para qualquer atleta.

Mas passada a experiência olímpica, Popole e Yolande estavam em busca de uma vaga para os Jogos de Tóquio, em 2020. Antes do campeonato carioca, participaram do Torneio de Abertura, no final de março. Agora, na Arena de Deodoro, no Rio de Janeiro, os dois refugiados que vivem no Rio de Janeiro tiveram mais uma oportunidade de medir forças contra os adversários e ganhar experiência na caminhada até o Japão.

A sequência de competições, embora ainda pequena, já revela uma evolução no nível de competitividade de ambos. Popole, que havia conquistado a medalha de bronze no Abertura, venceu suas duas primeiras lutas preliminares no Carioca e avançou à final da categoria até 90kg. Na decisão, deixou escapar o ouro por pouco. Um shido (punição) por falta de combatividade no golden score (prorrogação) lhe custou a vitória, mas o sentimento após a luta não era de decepção.

"Estou muito orgulhoso de ter participado deste campeonato. Comecei o ano com o bronze e agora peguei a prata. Na próxima vou ganhar o ouro", prometeu o congolês.

Já Yolande teve a oportunidade de fazer quatro combates, porque a disputa da sua categoria (até 78kg) ocorreu no formato de rodízio, em que todas as atletas inscritas lutam entre si. Embora tenha vencido apenas o último confronto, a judoca olímpica, que havia perdido todas as lutas no Torneio de Abertura, também saiu satisfeita com seu desempenho.

A refugiada congolesa Yolande Mabika enfrenta Stephany Brandão. Foto: © ACNUR/ Diogo Félix

"Sinto que estou melhor", contou Yolande, que antes disputava a categoria até 70 kg. "Antes das Olimpíadas tinha ficado dois anos parada, mas agora estou treinando pesado e pegando ritmo de competição. Foi a primeira vez que lutei na nova categoria, que é um pouco mais difícil porque as judocas são mais fortes. Preciso me exercitar bastante e pegar mais técnica. Esses campeonatos são parte da preparação para as Olimpíadas de 2020. Estou trabalhando para chegar até lá."

Os congoleses sabem, no entanto, que o caminho é longo, difícil e, sobretudo, incerto. A presença da dupla em qualquer torneio, seja nacional ou internacional, depende de convites, como foi o caso do Campeonato Carioca de Judô, no qual eles tiveram que participar de forma independente.

"Abrimos uma exceção para que eles disputassem o campeonato como atletas avulsos, como ocorreu com o Time de Refugiados nas Olimpíadas", explicou Leonardo Lara, vice-presidente da Federação de Judô do Estado do Rio de Janeiro. "A única diferença é que as lutas não contam pontos para nenhuma agremiação, porque eles não são brasileiros e, consequentemente, não estão vinculados a nenhum clube. Essa é uma parceria que temos com o professor Geraldo Bernardes (técnico dos dois judocas). Ele faz um trabalho fantástico, e nós, como Federação, devemos apoiar."

O próximo torneio do calendário será o Campeonato Estadual do Rio de Janeiro, marcado para os dias 29 e 30 de julho. O convite aos dois judocas refugiados está garantido, mas as medalhas dependerão da continuidade do trabalho duro nos tatames. Se o caminho até Tóquio 2020 passa por esses campeonatos, Popole não quer saber de tranquilidade.

"Estou pegando o espírito de competição. O judoca é como água quente: se você deixa parado, esfria. Agora, sim, estou esquentando!"

Popole e Yolande foram dois dos 10 atletas que fizeram história integrando a primeira Equipe Olímpica de Atletas Refugiados, que atuou nos Jogos de Rio 2016. Eles tiveram a oportunidade de representar milhões de refugiados em todo o mundo ao competir sob a bandeira do COI, o Comitê Olímpico Internacional.

Além dos dois judocas congoleses, a equipe foi formada por dois nadadores sírios e seis corredores da África (um da Etiópia e cinco do Sudão do Sul). Todos eles deixaram seus países devido a conflitos, perseguições e violações dos direitos humanos, e encontraram refúgio em países como Alemanha, Bélgica, Brasil, Luxemburgo e Quênia.

Uma das integrantes da equipe, a nadadora síria Yusra Mardini, foi recentemente nomeada Embaixadora da Boa Vontade do ACNUR.

Por Diogo Félix, do Rio de Janeiro