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Famílias deslocadas devido à ofensiva de Mossul celebram momentos de liberdade

Homens e mulheres que escaparam do controle militante na segunda maior cidade do Iraque compartilham seu alivio ao alcançar a segurança.

HASANSHAM, Iraque, 11 de novembro de 2016 – Pai de seis filhos, Mahmoud Ahmad, de 35 anos, tinha um enorme sorriso no rosto quando saiu do caminhão no qual outras famílias viajavam, segurando sua filha de dois meses, Farah, em seus braços.

Depois de mais de dois anos vivendo sob controle militante, ele e sua família finalmente escaparam de sua casa no distrito de Intisar, em Mossul, e chegaram ao campo Khazer M1 para deslocados iraquianos, perto da aldeia de Hasansham, a cerca de 30 quilômetros de distância.

“É muito bom, estamos seguros agora. Estou muito feliz”, disse. “Agora, uma das primeiras coisas que vou fazer é me barbear”, acrescentou rindo, referindo-se a algumas das rígidas restrições que os grupos militantes impuseram aos civis nas áreas que controlavam.

Os homens foram instruídos a deixar a barba crescer, parar de fumar e usar calças mais curtas. As mulheres foram ordenadas a se cobrir totalmente e temiam sair em público.

“As famílias viveram com medo e com o terror por mais de dois anos”.

As famílias viveram com medo e com o terror por mais de dois anos. Agora, elas estão felizes com a liberdade de poderem decidir como querem viver suas vidas e até o que querem vestir.

Mahmoud, falando com um sorriso que ainda iluminava o seu rosto, costumava ganhar a vida como eletricista e vendia antenas parabólicas no mercado local. Mas quando as antenas parabólicas foram proibidas por militantes há sete meses, ele ficou sem trabalho, contando com as economias e vendendo as jóias de sua esposa para sustentar sua família.

“Meu sorriso me ajudou a superar muitas dificuldades em Mossul”, confidenciou, quando perguntado se ele estava sempre tão feliz. “Isso me ajudou a esquecer que a vida era dura”.

Ele estava entre as 2.040 pessoas que chegaram ao acampamento de Khazer naquele dia, todos falando sobre o alívio por estarem livres do domínio dos grupos militantes. Na semana passada, o número de pessoas deslocadas dentro e ao redor da cidade de Mossul mais que dobrou, elevando o número total de iraquianos deslocados para 47 mil desde o início das operações militares no dia 17 de outubro.

Um garoto solta bolhas de sabão em um acampamento para deslocados internos iraquianos perto de Hasansham, a 30 quilômetros de Mossul. © ACNUR/Caroline Gluck

É provável que os números continuem a subir acentuadamente à medida que os combates se deslocam para as áreas urbanas mais densamente povoadas de Mossul. Em resposta, o ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, está intensificando a assistência.

O ACNUR está construindo 11 campos para acolher iraquianos deslocados, sendo que cinco deles estão atualmente recebendo os recém-chegados. Construído recentemente, o acampamento de Hasansham atingiu sua lotação máxima em apenas quatro dias.

O acampamento abriga 1.855 famílias e mais de 10 mil pessoas. Uma última seção do acampamento, com 240 tentas, deve ser concluída esta semana. Enquanto esperavam por tendas, 135 famílias que chegaram na segunda-feira passaram a primeira noite no centro de recepção do acampamento onde eram fornecidos colchões e cobertores.

Algumas das novas famílias se mudaram temporariamente para outros lugares, juntando-se a vizinhos, amigos ou família. Sadika Abdullah Aziz, mãe de dois filhos do bairro de Samah em Mossul, está hospedando seis famílias em sua tenda, que agora abriga cerca de 20 pessoas, a maioria crianças.

“Chegamos ontem de manhã. Nós nos sentimos seguros e confortáveis aqui e dormimos bem ontem à noite”, disse. “Já não temos explosões e bombardeios ao nosso redor. Nossa casa foi totalmente destruída e nós ficamos com vizinhos até que pudéssemos sair”.

“Quando nós estávamos aqui, eu vi muitas outras famílias sem tendas, então as convidamos para ficar conosco. É lotado, mas logo eles receberão tendas e mais ajuda”, acrescentou.

“Nós nos sentimos seguros. Nós somos livres. Sentimo-nos libertados e esperamos um futuro melhor”.

Khairo Murat Mirza, pai de nove filhos, dormiu do lado de fora na primeira noite, enquanto as mulheres de sua família dormiram em um edifício lotado no centro de recepção. Mesmo assim, ele não estava reclamando.

“Antes, as coisas eram confusas e assustadoras. Nós não nos sentíamos seguros. Agora, mesmo precisando de ajuda, estando muitos cansados, com fome e sem tenda, nos sentimos seguros. Nós somos livres. Sentimo-nos libertados e esperamos um futuro melhor”.

Caminhões e ônibus cheios de recém-chegados do leste de Mossul agora estão sendo direcionados para um local extenso onde milhares de famílias podem ser abrigadas no campo de Khazer M1, que é dirigido pelo governo e fica a poucos minutos de onde o ACNUR está fornecendo itens de ajuda de emergência, incluindo colchões e cobertores. 

No acampamento, Mahmoud Ahmad e sua família estavam se instalando em sua nova tenda. Mahmoud ainda estava com um sorriso largo. “Não durmo há cinco dias. A noite passada foi a primeira noite em que dormi direito”, disse. “As crianças estão rindo e brincando de novo lá fora. Elas estão muito felizes. Elas não podiam brincar do lado de fora em Intisar... nós sentíamos muito medo por elas”.

“Estar aqui agora é como uma libertação de uma prisão escura para a luz”, disse com um sorriso radiante. 

O ACNUR lançou uma campanha de emergência para cobrir as lacunas de investimentos necessários ao bem-estar da população civil de Mossul. Doações podem ser feitas diretamente aos projetos no Iraque por meio do site doar.acnur.org.