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Equipe Olímpica de Atletas Refugiados faz planos para o futuro

Há quatro meses, dez refugiados fizeram história nos Jogos Olímpicos Rio 2016 - uma experiência que mudou a vida de todos os envolvidos.

ACNUR, 06 de janeiro de 2017 - Em agosto, dez atletas refugiados fizeram história ao competir nos Jogos Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro como membros da primeira equipe olímpica de atletas refugiados.

Suas conquistas e superações ganharam corações em todo o mundo.

O que aconteceu com eles desde então? Onde estão agora e o que estão fazendo? Como essa experiência afetou suas vidas?

Tegla Loroupe, 43 anos, Quênia, líder da Equipe Olímpica de Atletas Refugiados

A ex-recordista mundial de maratonas e Chefe de Missão da Equipe Olímpica de Refugiados, Tegla Loroupe, do Quênia, na Vila Olímpica. © ACNUR / Benjamin Loyseau

Tegla Loroupe é um lembrete constante do que é determinação, perseverança e humildade.

Corredora campeã de longa-distância, embaixadora da paz e, recentemente, líder da equipe olímpica de refugiados no Rio, ela cresceu no extremo norte do Quênia, onde viu os efeitos devastadores e negativos do conflito.

Em razão do sucesso global da equipe, em outubro ela foi nomeada a Personalidade das Nações Unidas de 2016. "Fiquei muito honrada e senti que, todas as coisas pesadas que aconteceram comigo valeram a pena".

A queniana de 43 anos admite que, a princípio, a ideia de refugiados competindo nos Jogos Olímpicos parecia inconcebível. "Quando comecei a conversar com o ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, a ideia de que os refugiados fossem para os Jogos Olímpicos era inimaginável, mas queríamos fazer algo pela paz", disse.  

"Essas pessoas não pediram para ser refugiados."

Ela solicitou ao Comitê Olímpico Internacional e, meses depois, as provas foram realizadas nos campos de refugiados do Quênia. Ela sabia que preparar os atletas para as Olimpíadas não seria uma tarefa fácil.

Tanto a confirmação de que haveria, pela primeira vez na história, uma Equipa Olímpica de Atletas Refugiados, quanto a acolhida entusiasmada recebida na cerimônia de abertura no Rio, e a mensagem de encorajamento do Papa Francisco foram momentos históricos para ela.

Ela espera que o sucesso a ajude a aprimorar seu centro de treinamento em Nairóbi.  “A porta já foi aberta para nós”, disse. "Como resultado, alguns de nossos atletas se tornaram embaixadores e porta-vozes".

Tegla adotou o apelido de "mãe daqueles que não têm mãe", que é como os atletas afetuosamente se referem a ela. "Eu nunca direi ‘não’ a este apelido, eu tenho orgulho de ser a mãe deles", disse. "Essas pessoas não pediram para ser refugiados".

Yusra Mardini, 18 anos, Síria, nadadora 200 metros livre

A nadadora Yusra Mardini interage com estudantes durante evento em Berlim para promover a prática de esportes na educação infantil © UNHCR/Daniel Etter

Yusra Mardini está trabalhando duro depois de um ano atribulado. Desde que competiu nas Olimpíadas do Rio, a nadadora síria falou com líderes mundiais, encontrou-se com o Papa Francisco e foi homenageada com uma série de prêmios.

Agora ela está treinando com afinco para realizar o sonho de se classificar para os Jogos Olímpicos de 2020 em Tóquio. Ainda faltam quatro anos para os jogos, mas o treinamento rigoroso e as competições já dominam a agenda de Yusra. Se quiser encontra-la, comece procurando na piscina.

"Tenho treinado duro desde o Rio", disse Yusra ao ACNUR. "Mas eu também tenho pensado muito sobre o que posso fazer para ajudar refugiados em todo o mundo". Yusra ainda está preocupada com sua terra natal, a Síria. Grande parte de sua grande família ainda está em Damasco, vivendo em circunstâncias difíceis.

“Eu também tenho pensado muito sobre o que posso fazer para ajudar refugiados em todo o mundo".

Yusra disse que sua própria experiência a deixou determinada em ajudar a manter a questão dos refugiados no topo da lista de prioridades do mundo. Ela está empenhada em desenvolver habilidades como palestrante motivacional, com base em aparições importantes, como o discurso que fez em setembro na Cúpula da ONU para Refugiados e Migrantes em Nova York.

"A coisa mais importante na minha vida é nadar", disse. "Em seguida, é falar e fazer coisas para ajudar os refugiados. Naturalmente, estudar é muito importante, mas eu sinto que posso fazer mais neste momento ao falar com o mundo”.

Yiech Pur Biel, 21 anos, Sudão do Sul, corredor 800 metros

Yiech Pur Biel descobre os pontos turísticos de Paris durante visita à cidade. © UNHCR/Benjamin Loyseau

Para Yiech Pur Biel, as Olimpíadas fizeram mais do que permitir que ele mostrasse suas habilidades esportivas em um palco mundial. Foi uma entrada para os livros de história e uma experiência incrível que o reconectou com sua família depois de quase 12 anos.

Ele se separou da família quando fugiu do Sul do Sudão em 2005. Pelas mídias sociais sua mãe descobriu que ele estava no Rio e, com a ajuda do ACNUR, conseguiu restabelecer o contato.

"Foi incrível falar com minha mãe depois de 12 anos", disse.

Yiech assumiu o papel informal de embaixador para refugiados. "Eu também tenho outra família, a dos refugiados, 65.3 milhões deles", disse.

Ele tem estado ocupado desde os Jogos Olímpicos, passando de um evento importante para outro. Desde assistir à Cúpula de Líderes sobre Refugiados, até testemunhar a entrega da petição do ACNUR #WithRefugees na Assembleia Geral da ONU. Sua mensagem foi a mesma: um refugiado é uma pessoa como todos os outros.

"Eu também tenho outra família, a dos refugiados.”

Sua experiência lhe deu grandes oportunidades, comenta. "Agora tenho uma chance de contar a minha jornada e isso tem motivado muitas pessoas. Viajar me deu espaço para compartilhar minha história com o mundo".

Ele está treinando duro para as Jogos Olímpicos de 2020 em Tóquio, onde espera quebrar o recorde mundial dos 800 metros que pertence a Kenyan David Rudisha, atleta que ele considera uma referência.

"Quando eu conheci Rudisha no Rio, eu disse a ele que iria quebrar seu recorde em Tóquio", conta. "Ele me encorajou e me disse para ir em frente e quebrá-lo".

Rami Anis, 25 anos, Síria, nadador 100 metros borboleta

Rami Anis – vestindo branco – comparece a evento com blogueiros em Paris. © UNHCR/Benjamin Loyseau

"Minha vida, de fato, mudou", disse o nadador sírio Rami Anis ao refletir sobre os meses desde os Jogos. "As Olimpíadas fortaleceram minha determinação. Agora eu quero me concentrar em competir".

Rami disse que as ofertas de mídia e mensagens de apoio de celebridades continuaram a inundar sua página no Facebook. Sentado no sofá vestindo sua roupa de treino e tomando chá, Rami disse que ele tinha gostado da experiência do Rio, embora tenha sido estressante na época.

Na Bélgica, o município onde vive reconheceu seus feitos em uma cerimônia especial e ele falou aos alunos refugiados sobre o desenvolvimento de seus talentos e sobre lutar por seus sonhos.

“Agora eu quero me concentrar em competir."

Rami disse que melhorou seu tempo na piscina. No Rio ele nadou a prova dos 100 metros borboleta em 56,2 segundos e desde então ele baixou seu tempo em alguns segundos. Ele sabe que para se qualificar para os Jogos de Tóquio em 2020 ele precisa estar abaixo de 54 segundos, e esse é o seu objetivo.

Apesar de dissolver a equipe olímpica de refugiados, o Comitê Olímpico Internacional prometeu continuar o apoio financeiro aos 10 atletas que compõem a equipe até os Jogos de Tóquio em 2020.

O pagamento mensal de Rami vai para as taxas do clube, campos de treinamento e participação em competições, bem para compra de kits. A Visa, empresa de serviços financeiros, ofereceu a ele um patrocínio único. "Promessas foram feitas no Rio, então eu sabia que haveria apoio, eu só não achei que seria tão generoso".

Rami ainda considera a língua e a cultura na Bélgica um desafio. Fora da piscina, ele gasta parte de seu tempo livre com seus companheiros de equipe. Ele acaba de completar um curso de integração com seu irmão e pai, no qual eles aprenderam sobre a vida na Bélgica, e sobre como encontrar trabalho.

Yonas Kinde, 36 anos, Etiópia, maratonista

Yonas Kinde no último dia dos Jogos Olímpicos Rio 2016. O maratonista etíope refugiado agora vive em Luxemburgo. © UNHCR/Benjamin Loyseau

Faz apenas quatro meses que o maratonista etíope Yonas Kinde competiu em suas primeiras Olimpíadas, mas desde então ele mudou de muitas maneiras. O cabelo cortado que ele tinha quando ele cruzou a linha de chegada no Rio tornou-se um mini-Afro.

Ele diz que deixou o cabelo crescer "porque está frio" na pista em Luxemburgo.

Esta é apenas uma das maneiras que o jovem de 36 anos está se adaptando à vida desde o Rio. Ele está frequentando aulas de idiomas e claramente está confortável em conversar em francês e luxemburguês. Ele também começou a treinar um eritreu de 23 anos chamado Abiel.

"Depois de uma corrida eu falei com ele e disse 'você tem que treinar comigo'", disse. "’Isso é bom para você’, e então ele continuou".

"Meu objetivo é competir em Tóquio."

Yonas fechou um contrato de treinamento em um complexo desportivo em Luxemburgo, onde ele usa as habilidades de massagem e fisioterapia que estudou na Etiópia. Sua esperança é que a experiência de seis meses leve à maiores realizações.

"Minha situação é muito difícil. Minha família ainda está na Etiópia. Meu objetivo é ter um emprego com contrato de tempo integral. Quero trazer minha esposa e minha filha para Luxemburgo".

A burocracia não deixa claro se este objetivo familiar está ao alcance, mas Yonas está otimista em relação a outro objetivo.

"Meu objetivo é competir em Tóquio", disse com uma confiança tranquila, bem ciente de que terá 40 anos de idade quando os melhores atletas do mundo se reunirem no Japão em 2020. Ele disse que queria representar o Luxemburgo e estava solicitando a cidadania.

Anjelina Nadai Lohalith, 21 anos, Sudão do Sul, corredora 1.500 metros

Anjelina Nadai Lohalith e os outros atletas sul-sudaneses a caminho do Rio de Janeiro. Foto: ©UNHCR

Viajar para os Jogos Olímpicos foi a realização de um sonho que Anjelina Lohalith tinha desde que era uma criança: voar. A corredora de 23 anos ficou impressionado com as boas vindas que a equipe recebeu no Rio.

"Quando fomos recebidos pela multidão, foi tão emocionante para mim que eu não pude conter as lágrimas", disse.

Mandar recados para sua mãe, ainda criança no Sudão do Sul, envolvia muita corrida, algo casual para ela na época. Sua vida mudou desde que ela correu na prova dos 1.500 metros no Rio.

"Para mim foi como um sonho, porque eu nunca pensei que um dia, alguma vez, eu seria capaz de correr assim", disse.

"É uma questão de ignorar o status de refugiado e apenas se concentrar em sua vida."

Ela está focada em Tóquio 2020 e outras grandes corridas antes disso. Desde os Jogos do Rio, ela viajou para Uganda e Canadá, onde participou da Cúpula Mundial One Young em Ottawa. A cúpula é um fórum global para jovens líderes que discutem assuntos globais e desenvolvem soluções "para enfrentar os desafios do século XXI".

"Acabou tornando-se uma grande chance para eu encorajar pessoas no campo de refugiados que têm mais esperança agora", disse.

Sua mensagem era clara, especialmente para as jovens refugiadas. "Se outros podem quebrar o recorde mundial, o que vai me impedir de quebrar o recorde mundial?", disse. "É uma questão de ignorar o status de refugiado e apenas se concentrar em sua vida".

Rose Nathike Lokonyen, 21 anos, Sudão do Sul, corredora 800 metros

Rose Nathike, atleta do Time de Refugiados, em evento da ONU em Genebra. © UNHCR/Susan Hopper

Para Rose Nathike Lokonyen, de 21 anos, sua estreia nos Jogos Olímpicos do Rio, quando liderou a equipe de refugiados na cerimônia de abertura, foi nada menos que um milagre.

"As Olimpíadas foram incríveis", disse. "Quando fui eleita porta-bandeira e fomos ao estádio de Maracanã, pessoas do mundo todo nos aplaudiram".

“Pessoas do mundo todo nos aplaudiram.”

Foi uma primeira experiência não só para Rose, mas também para os refugiados em todo o mundo. Desde então ela tem treinado com determinação ferrenha, visando melhorar seus tempos na especialidade que escolheu, os 800 metros.

"Senti paixão para continuar com o treinamento. Corri com [Caster] Semenya (vencedora da medalha de ouro na prova de 800 metros para mulheres) e preciso treinar duro para que eu possa alcançá-la", disse.

Rose está focada em continuar seus estudos e se interessa por computadores e desenvolvimento comunitário. Ela viajou para países como a Suíça e a Suécia. Na Suécia, ela conheceu o Papa Francisco, que fez uma visita de dois dias ao país como parte da comemoração do 500º aniversário da Reforma Protestante.

"Foi incrível porque ele apertou minha mão", ela disse sorrindo.

Ela se sente motivada para encorajar os outros. "Ser um refugiado não significa que você não pode fazer o que os outros estão fazendo. É apenas um status", disse.

James Nyang Chiengjiek, 28 anos, Sudão do Sul, corredor dos 800 metros

James Nyang Chiengjiek do lado de fora de sua casa em Kakuma, campo de refugiados no Quênia. © UNHCR

Para o corredor James Nyang Chiengjiek, um dos destaques de sua experiência nos Jogos Olímpicos do Rio foi conhecer a estrela do futebol brasileiro, Neymar.

"Ele nos disse para esquecer o tinha passado e nos concentrarmos no que o futuro reserva", lembrou o refugiado sul-sudanês. "Trabalhe duro e respeite os outros".

James, que agora vive no Quênia, acredita que o esporte pode levá-lo mais longe do que ele jamais imaginou. "Se você levar o esporte a sério, ele pode torna-lo alguém melhor", disse. "O esporte pode unir as pessoas e promover a paz entre elas".

Ele tem em vista o Campeonato Mundial de Atletismo de 2017 e está esperançoso de que outros refugiados também terão a chance de competir. "Estou desejando que mais pessoas em campos de refugiados disputem essas corridas porque, como refugiados, temos que trabalhar muito para passar para o próximo nível", disse.

"Eu quero ajudar outros jovens refugiados nos campos."

Seu objetivo é correr na prova dos 400 metros nos Jogos de Tóquio em 2020, que ele vê como o desafio final. "Meu sonho sempre é ganhar ouro", disse. "Eu sei que muitos estão desejando esse ouro e para mim é uma questão de acreditar em mim mesmo e trabalhar muito duro".

Ele também espera continuar estudando engenharia. Ele sabe que outras pessoas se inspiram nele e ele quer seguir os passos de sua mentora, a corredora Tegla Loroupe, líder da equipe. "Eu quero ajudar outros jovens refugiados nos campos", diz.

Paulo Amotun Lokoro, 24 anos, Sudão do Sul, corredor dos 1.500 metros

Paulo Lokoro na Praça São Pedro, no Vaticano, antes de falar no evento “O esporte a serviço da humanidade”. © UNHCR/Alessandro Penso

Paulo Amotun Lokoro sorriu ao lembrar de sua experiência olímpica. "Para mim, como refugiado, foi muito incrível experimentar tantas coisas e conhecer pessoas diferentes de diversas nacionalidades", disse.

Em seus 24 anos, ele nunca tinha ido a nenhum outro lugar, além do seu país, o Sudão do Sul, e do campo de refugiados Kakuma, no Quênia. Seu sucesso na corrida lhe rendeu uma posição na Equipe Olímpica de Atletas Refugiados e um lugar na prova dos 1.500 metros.

Ele admite que ficou impressionado com o lendário Estádio do Maracanã e intimidado quando viu caras famosas na formação. "Eu encontrei campeões que eu só vi na TV e ouvi falar no rádio. Eu não sabia se eu seria capaz de correr com eles, mas eu tinha que ser firme e fazer o meu melhor", disse.

“Acho que posso me tornar um grande corredor.”

Ele pode não ter ganhado nenhuma medalha, mas deixou o Rio mais sábio e mais confiante. Paulo está determinado a melhorar na pista e competir em 2020 em Tóquio com energia renovada como um corredor de maratona. Ele espera terminar seus estudos e ajudar sua família no Sudão do Sul.

Acima de tudo, ele quer deixar os refugiados em todo o mundo orgulhosos. "Antes das Olimpíadas, eu não tinha treinado muito e consegui chegar ao Rio", disse. "Agora, com mais tempo para treinar, acho que posso me tornar um grande corredor e deixar meus companheiros refugiados orgulhosos".

Popole Misenga, 24 anos, República Democrática do Congo, Judoca

O judoca olímpico Popole Misenga se senta com a esposa, Fabiana, e com os filhos na porta de sua casa no Rio de Janeiro. © UNHCR/Phil Clarke Hill

Desde o final dos Jogos Olímpicos no Rio, o judoca Popole Misenga, de 24 anos de idade, tem se preocupado com a possibilidade de se reunir com seus irmãos que ainda vivem na República Democrática do Congo (RDC).

Pouco antes dos Jogos, ele chorou durante uma coletiva de imprensa quando falou sobre a falta de contato com seus parentes desde a infância. Ele disse que esperava algum contato com eles em consequência de sua participação nos Jogos – e isso aconteceu.

"Eu estou vivo! Estou vivo! ", gritou no celular quando recebeu um telefonema de um de seus irmãos.

"Esta foi a coisa mais importante para mim desde o final dos Jogos. Eu quero levar meus dois irmãos e uma irmã da RDC para o Rio", disse. "Eles também merecem a chance de reconstruir suas vidas em outro país", Popole contou ao ACNUR.

Popole procurou refúgio no Brasil depois de viajar para competir no Campeonato Mundial de Judô de 2013, juntamente com Yolande Mabika. Ele agora mora em Brás de Pina, uma comunidade carente nos arredores do Rio de Janeiro.

“Eu quero competir em Tóquio por uma medalha."

Com as Olimpíadas de Tóquio em mente, ele treina de segunda a sábado com o mesmo treinador que o preparou para os Jogos do Rio. "Eu não tive tempo suficiente para me preparar para os Jogos Olímpicos no Rio", disse.

"Mas eu vou ter quatro anos até 2020, e eu quero competir em Tóquio por uma medalha", acrescentou, apesar de não saber se haverá outra Equipe Olímpica para Refugiados e se ele fará parte dela.

Outro ponto importante em sua vida foi ter se tornado pai em novembro.

"Tenho uma vida mais estável e sou capaz de apoiar mais a minha família", disse. "Eu também quero ajudar as crianças da RDC, porque eu sei as dificuldades que estão enfrentando lá. Faz parte do meu dever apoiar os jovens por meio do esporte”.

Yolande Mabika, 28 anos, República Democrática do Congo, Judoca

Durante uma aula de judô, criança brasileira posa para foto com Yolande Mabika, refugiada congolesa que se tornou atleta olímpica e competiu nas Olimpíadas do Rio em 2016. © UNHCR/Benjamin Loyseau

Todos os dias, antes de partir para o mesmo instituto onde se preparava para as Olimpíadas do Rio, a judoca Yolande Mabika checa sua página no Facebook. Sua vida social ficou agitada. "Agora sou uma pessoa mais legal do que costumava ser, sorrindo mais", contou ao ACNUR. "Antes, a tristeza fazia parte da minha vida".

Mesmo com uma rotina de treinamento exigente de segunda a sábado, que inclui um curso de português intensivo, Yolande encontra tempo para participar de almoços promocionais e eventos com empresas que patrocinaram os Jogos Olímpicos Rio 2016.

Ela buscou refúgio no Brasil depois de viajar para competir no Campeonato Mundial de Judô de 2013.

Com uma doação do Comitê Olímpico Internacional e outros patrocinadores, ela conseguiu mudar-se de um quarto compartilhado para uma nova casa, onde mora sozinha. Ela planeja criar uma organização para oferecer atividades esportivas - principalmente judô - a crianças vulneráveis. "Os esportes fizeram parte da minha vida e ficarão comigo para sempre".

"Agora é minha vez de ajudar os mais vulneráveis."

No entanto, a língua continua sendo uma barreira. "Para criar minha organização, preciso ter um diploma acadêmico. Isso é difícil, mas eu vou chegar lá".

Com o apoio de seu treinador, Yolande está ajudando alguns dos professores do instituto onde ela treina. Ela também atua como voluntária em atividades que ajudam populações vulneráveis no Rio.

Recentemente, ela trabalhou como garçonete em um restaurante administrado por um cozinheiro sírio refugiado que forneceu comida para pessoas desabrigadas. "Quando cheguei ao Brasil, muita gente me ajudou a conseguir comida", disse. "Agora é minha vez de ajudar os mais vulneráveis".

A sensação de representar uma causa ainda é um sentimento forte para Yolande. "Eu ainda estou representando os refugiados, e eu ainda sou parte desta história".

Contribuíram para essa série: Warda Aljawahiry (da Bélgica), Josie Le Blond (da Alemanha), Alex Court (de Luxemburgo), Luiz Fernando Godinho e Diogo Felix (do Brasil) e Catherine Wachiaya e Mary Theru Wambui (do Quênia).