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Marrocos e Nigéria disputarão final inédita pela 4ª Copa dos Refugiados em São Paulo

Depois de envolver mais de 200 jogadores refugiados nas disputas eliminatórias no último final de semana, o estádio do Pacaembu será o palco da grande final entre as duas equipes invictas do maior evento esportivo para refugiados no Brasil.

São Paulo, 18 de setembro de 2017 (ACNUR) – De um lado, a experiência. Do outro, a superação. O que aproxima os jogadores refugiados de Nigéria e Marrocos em São Paulo é a vontade de se sagrar campeões da Copa dos Refugiados, o maior evento esportivo voltado às pessoas em situação de refúgio e que vivem no país. A competição deste ano, em sua quarta edição, registrou o maior número de jogadores inscritos e terá uma inédita decisão na final: a estreante seleção do Marrocos enfrentará a Nigéria, vencedora da primeira edição da Copa dos Refugiados (2014).

As duas seleções chegaram ao topo da competição após uma exaustiva disputa que envolveu a participação de 16 diferentes times. Em jogos eliminatórios e disputas acirradas, algumas seleções favoritas, como Camarões e Mali, foram eliminadas ao longo da competição e abriram espaço para esta final inédita, a ser disputada no consagrado estádio do Pacaembu, às 15hs do próximo domingo (24).

“É como um sonho que vai ser realizado poder representar o nosso país em um grande estádio, para o público de torcedores brasileiros. Espero que (os torcedores) possam ir a torcer por nós. Jogamos com o coração e se vencermos dedicaremos o título ao nosso país e aos brasileiros”, disse Hassan Eusen, jogador do Marrocos que está no Brasil há cinco anos e trabalha no comércio da Rua 25 de março, centro de São Paulo. Aliás, reside neste endereço o segredo da seleção de Marrocos.

“Nosso time se conheceu todo lá mesmo, fazendo comércio na Rua 25 de Março. Estamos sempre juntos, e como todos nós gostamos de futebol, formamos um time e começamos a treinar. Recentemente, passamos a nos reunir toda terça-feira para jogar e agora vamos com tudo para essa final”.

Hassan diz que sua vida está ótima em São Paulo, principalmente pelo fato de estar empregado. Quando perguntado sobre o que é mais difícil no Brasil, não tem dúvidas: “a saudade que sinto da minha família”. Já sobre a maior dificuldade para chegar à final, garante que o sol foi o pior adversário.

Com o objetivo principal de integrar pessoas em situação de refúgio no Brasil, o torneio fortaleceu os laços de amizade e respeito entre os jogadores que só dentro de campo são rivais. Foto: ©ACNUR/Miguel Pachioni.

Enquanto a final certamente será disputada com muita garra e dedicação dentro de campo, a partida pelo terceiro lugar já foi realizada entre as equipes de Togo e Guiné Bissau. A vencedora deste duelo, Guiné Bissau, além das cores verde e amarelo de sua bandeira, contou para a disputa da competição de um goleiro brasileiro, Ronaldo Pereira, de 37 anos.

“Eu encontrei a rapaziada da Guiné Bissau jogando bola com meu filho e fui convidado por eles a disputar esse campeonato, passando a representar as cores verde e amarelo do outro lado do oceano. É uma iniciativa muito gratificante poder jogar com eles e conhecer mais sobre a realidade de cada um, ajudando no que for preciso”, disse o goleiro da equipe que se sagrou terceira colocada da competição após vencer o Togo pelo placar de um a zero.

Uma das “madrinhas” da seleção da Nigéria posa para foto ao lado do jogador, contribuindo para o fortalecimento dos laços culturais entre as diferentes nacionalidades. Foto: ©ACNUR/Miguel Pachioni.

Além de alguns poucos jogadores brasileiros, as seleções que fazem parte da Copa dos Refugiados têm como representantes de seus times mulheres brasileiras, que organizam todas as questões logísticas e também contribuem para o processo de integração e trocas culturais.

A Copa dos Refugiados é uma competição que envolve pessoas em situação de refúgio e migrantes residentes na cidade de São Paulo, assim como brasileiros, com o intuito de as integrar e promover trocas culturais, criando uma rede de apoio. Há quatro anos a Copa é realizada pela “África do Coração”, uma organização composta por refugiados de 20 diferentes nacionalidades e que desenvolve projetos em prol dos refugiados no país.

O ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, apoia a Copa desde seu início, e neste ano trouxe a iniciativa privada para a promover e gerar mais visibilidade sobre o tema. Neste sentido, a multinacional Sodexo aderiu à proposta como fornecedora dos kits de alimentação para os jogadores e a empresa Netshoes propiciou o uniforme personalizados aos jogadores, além de mochilas e uma premiação aos vencedores da Copa. O evento contou ainda com o apoio fundamental das Secretarias Municipais de Esportes e Lazer, dos Direitos Humanos e das Relações Internacionais da Prefeitura de São Paulo, da Caritas Arquidiocesana de São Paulo, do SESC e da Cruz Vermelha.

Por Miguel Pachioni, de São Paulo.