Guatemala oferece alivio à violência das gangues da região
CIDADE DA GUATEMALA, Guatemala, 29 de setembro de 2017 – Ameaçados e assediados por perigosas gangues de rua em seu país natal, El Salvador, o casal Juan Pablo e Cecilia* foram obrigados a se mudar de casa por diversas vezes.
Mas foi a perspectiva de uma educação interrompida para seu filho de cinco anos, Juan, e a filha de um ano, Alma, foi o que finalmente os levou a abandonar o seu país na América Central.
"Nossos filhos têm que estudar e você não pode fazer isso quando você está sempre se mudando de um lugar para outro", diz Juan Pablo.
Ele e sua família estão entre dezenas de milhares de pessoas que fogem das gangues de rua, ou maras, como são chamadas em El Salvador e Honduras. Seu destino foi, mesmo assim, improvável: a Guatemala.
As atividades criminosas das poderosas maras incluem extorsão, tráfico de drogas, tráfico humano, prostituição e roubo. Enquanto seu alcance inclui a Guatemala, os solicitantes de refúgio dizem que é uma opção mais segura para eles.
"Nós ouvimos dizer que apenas certas partes da Guatemala seriam violentas, que ficou muito mais calmo aqui", diz Juan Pablo, que fugiu para a Cidade da Guatemala com sua família em maio. "Todos os cantos de El Salvador são perigosos".
Para proteger melhor os recém-chegados, o ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados e as organizações da sociedade civil criaram uma rede de espaços seguros para proteger os solicitantes de refúgio, como Juan Pablo sua família, quer eles escolham permanecer na Guatemala ou continuarem para outro país.
Há dados que indicam que a maioria opta por ficar. De 2014 a 2016, o número de solicitações de refúgio na Guatemala aumentou 202 por cento.
"Eles permitiram que meu filho frequente a escola sem custo", diz Cecilia. "E minha filha pode ficar na creche. Os guatemaltecos nos trataram bem e nos apoiaram ".
A família solicitou refúgio e recebeu vistos temporários para poder ficar enquanto era avaliado o seu caso. Desde 2014, 178 pessoas foram reconhecidas como refugiadas e as taxas de reconhecimento são altas para os cidadãos de El Salvador (97%) e Honduras (83%).
A proteção não se limita às famílias. Pessoas identificadas como lésbicas, gays, bissexuais, trans ou intersex, que coletivamente são conhecidos como LGBTI, são reconhecidas como refugiados na Guatemala. Esse reconhecimento foi especialmente vital para Leti, que cresceu em El Salvador e viveu sua transição para mulher como uma experiência brutal naquele país.
"Quando eu contei sobre a minha sexualidade para a minha família, minha casa tornou-se um lugar hostil para mim", ela lembra. Ela fugiu do abuso e da violência em El Salvador há mais de uma década, após testemunhar o assassinato de outra amizade LGBTI.
Embora a vida na Guatemala não tenha sido fácil, ela e outros amigos LGBTI em El Salvador prosperaram desde que receberam a oportunidade de buscar refúgio.
"Eu fiz amigos e encontrei novos espaços para ser voluntária e ativista", diz Leti. "Aqui eu me sinto em casa. As pessoas não são meus parentes de sangue, mas sinto que são como minhas irmãs ".
O Alto Comissário da ONU para Refugiados, Filippo Grandi, fez sua primeira viagem a trabalho à Guatemala, onde se reuniu com o presidente Jimmy Morales, refugiados e parceiros do ACNUR.
Grandi apontou que as medidas de proteção são necessárias, uma vez que a Guatemala se torna cada vez mais um "país de refúgio", e não apenas uma parada para refugiados e migrantes cujo destino final são o México e os Estados Unidos.
"Há muitas pessoas que acabam solicitando refúgio neste país, particularmente pessoas de El Salvador e Honduras", disse Grandi. Ele enfatizou que era necessária uma ação internacional concertada para enfrentar a insegurança que conduzia o deslocamento na região.
"O principal desafio é abordar as causas estruturais, especialmente as causas estruturais da violência, que faz com que tantas pessoas fugam. E esta busca de soluções só pode ser realizada em uma base regional ... E isso deve acontecer com o apoio da comunidade internacional ", afirmou.
Grandi visitou a Guatemala no início de uma viagem de 10 dias a cinco países da região. Em Honduras e El Salvador, ele se encontrou com comunidades afetadas pela violência e insegurança, bem como líderes governamentais e parceiros do ACNUR.
Ele também visitou o México, onde se encontrou com refugiados e solicitantes de refúgio, principalmente da América Central, que encontraram segurança no país no qual esforços incipientes para desenvolver soluções duráveis, principalmente relativas à integração local, são fundamentais. A viagem terminou na Costa Rica.
*Todos os nomes de refugiados foram alterados por razões de proteção.