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Refugiada colombiana abre sua casa para venezuelanos que necessitam de ajuda

Angélica Lamos foi acolhida pela Venezuela quando foi forçada a fugir da violência de grupos armados em 2003. Agora na Colômbia, ela abre sua casa para venezuelanos que estão passando necessidade.

CÚCUTA, Colômbia, 28 de setembro de 2017 (ACNUR) - Angélica Lamos Ballesteros, de 51 anos, se sentiu acolhida pela Venezuela quando grupos armados a forçaram a abandonar sua casa no montanhoso departamento no norte de Santander. Vivendo atualmente na Colômbia, ela abriu as portas da sua casa para os venezuelanos que estão passando por momentos de necessidade.

"É hora de retribuir", diz Lamos, em sua casa localizada no subúrbio de uma montanha de Cúcuta, cidade colombiana no oeste do rio Tachira, que atualmente atravessa uma crise própria.

Há muito tempo que a fronteira de cerca de 2.000 quilômetros entre a Venezuela e a Colômbia está cheia de pessoas que fogem da violência. 

Lamos, cuja delicada estatura contrasta com sua confiança e firme determinação, sabia apenas trabalhar cultivando a terra. Ainda assim, recomeçou sua vida na Venezuela depois de atravessar a fronteira com apenas um saco de roupas há 14 anos.

No entanto, depois de se estabelecer e criar sua família, ela foi obrigada a retornar à Colômbia em agosto de 2015, quando o governo venezuelano ordenou a deportação de colombianos na região fronteiriça. Isso fez com que cerca de 20 mil colombianos, muitos dos quais foram deslocados devido à longa guerra civil da Colômbia, fossem forçados a deixar o país.

"Abri minha casa há dois anos, quando ocorreram as deportações", diz Lamos. "Eu vivi, trabalhei, tive uma vida lá, então eu sei o que é ter que deixar tudo para trás. As pessoas chegam aqui sem nada, então a prioridade é dar-lhes algum lugar para ficar".

A crescente inflação, a escassez generalizada de alimentos e medicamentos, agitação política e violência estão levando dezenas de milhares de venezuelanos a fugir. Muitos seguem os passos de Lamos, cruzando a fronteira por terra até Cúcuta, na esperança de construir uma vida melhor e, em alguns casos, solicitarem refúgio.

Agora na Colômbia, Lamos mora em uma casa de estilo colonial, onde oferece comida, abrigo e solidariedade aos venezuelanos que fogem da crise. Sua casa tem um pátio central onde os moradores socializam e, às vezes, comem juntos. Os quartos são espaçosos e algumas famílias dividem uma cama.

Mulheres e meninas compartilham uma refeição na casa da ex-refugiada Angelica Lamos em Cúcuta, Colômbia. © ACNUR/ Paul Smith

"Temos cerca de 10 venezuelanos vivendo aqui", diz ela, gesticulando de forma animada. "Algumas pessoas ficam um mês, ou três meses, até que possam se virar sozinhos. Nós os ajudamos a entender seus direitos na Colômbia, nós os ajudamos a organizar seus documentos".

O governo colombiano estima que cerca de 300 mil venezuelanos estão agora no país andino, onde -   apesar da recente introdução de licenças temporárias de trabalho para aqueles que cruzaram legalmente a fronteira, mas ultrapassaram o tempo previsto nos seus vistos - há pouca infraestrutura para recebê-los.

Mais de 650 mil venezuelanos também atravessam regularmente a fronteira colombiana usando um Cartão de Mobilidade de Fronteira, principalmente para comprar alimentos e outros itens básicos. Até agora, em 2017, 32 mil venezuelanos solicitaram refúgio no mundo todo, a um ritmo muito maior que no ano passado, no qual foram um total de 34 mil solicitações.  

"Por muito tempo, a Colômbia foi um país de origem dos refugiados", disse Jozef Merkx, representante do ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, na Colômbia. Mundialmente, existem mais de 340 mil refugiados colombianos, além de sete milhões de deslocados internos pelo conflito no país. "Agora, precisa adaptar-se para ser o país que os acolhe".

Em seu esforço pessoal para receber refugiados, Lamos e sua família também organizam um almoço comunitário mensal, que é gratuito. Ela cobra aluguel de apenas 1 dólar por mês e entende quando ás vezes os inquilinos não conseguem pagar. "Nós também os encorajamos a trabalhar, para ir de porta em porta, encontrar algo que eles possam fazer com o seu tempo". 

O venezuelano Oswell Mujica do lado de fora do abrigo dirigido por Angelica Lamos em Cúcuta, Colômbia. Ele vende uma bebida doce fermentada chamada “mazato”, feita pelas mulheres no abrigo para pagar a viagem e o aluguel. © ACNUR/ Paul Smith

O estudante venezuelano Oswell Mujica, de 19 anos, está entre aqueles que recebem sua hospitalidade. Oswell fugiu de Caracas em janeiro e chegou a Cúcuta sem nada. "Eu estava procurando trabalho, mas não encontrava nada", ele diz, falando em um tom silencioso no pátio central da casa espaçosa de Lamos.

"Quando cheguei a Cúcuta pela primeira vez, tive que dormir na rua, mas depois encontrei este lugar". Ele diz que passou fome durante as primeiras semanas na Colômbia. "Quando cheguei aqui, era igual à Venezuela".

Embora muitos que passam pela casa Lamos estejam fugindo de fome e violência, alguns dizem que a ameaça da violência política os forçou a fugir. Keener González, de 21 anos, lembra dos protestos que viu em Caracas e da resposta implacável.

"Você não pode falar contra o governo lá", ele conta do lado de fora da casa, onde ele participou de uma reunião sobre os direitos dos venezuelanos recém-chegados. "Eles batem nos manifestantes, eles prendem as pessoas que tiram fotos ... Eu não posso viver num país como aquele".

Para Lamos, a decisão de abrir sua casa foi fácil. "Os venezuelanos estão vivendo um momento muito difícil e isso me causa dor. Eu vivi lá e fui bem tratada na época, mas agora as autoridades estão se comportando de maneira terrível ", disse ela. "Somos todos seres humanos, e todos temos direitos".

Por Joe Parkin Daniels.