Facebook recebe workshop do projeto 'Empoderando Refugiadas'
Coordenado pela Rede Brasil do Pacto Global em conjunto com Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e a ONU Mulheres, o projeto tem o objetivo de ajudar refugiadas que vivem no Brasil a se inserirem no mercado de trabalho. Com foco no empreendedorismo, o encontro, realizado na moderna sede do Facebook na capital paulista, apresentou as ferramentas para quem pretende abrir seu próprio negócio. "O projeto vem se consolidando como uma referência para sensibilizar as empresas do quão importante é o trabalho para essas mulheres. E as capacitações são fundamentais, pois contribuem para a integração delas no país e fazem com que superem os desafios que têm pela frente", destacou o Presidente da Rede Brasil do Pacto Global, André Oliveira.
Na abertura, Camila Fusco, diretora de empreendedorismo do Facebook na América Latina, lançou à plateia a pergunta “por que você está fazendo história?” como gancho para falar do portal Ela Faz História. O website traz estatísticas sobre o mundo feminino dos negócios, recursos de redes sociais úteis como ferramenta de marketing e diversos perfis de mulheres inspiradoras (40 delas só no Brasil). “Quando contamos a outras mulheres o que a gente fez para superar as dificuldades, estamos ajudando a fazer com que elas também cresçam”, afirmou Camila.
Além de incitar o protagonismo nas refugiadas, a pergunta motivou respostas positivas, algumas carregadas de emoção. “Eu não escolhi minha história, foi ela que me escolheu”, disse a síria Muna, integrante da primeira edição do workshop. Após deixar o país em conflito, hoje ela cuida de quatro filhos e prepara em casa a autêntica comida árabe para feiras, eventos e encomendas pessoais. Aliás, o café da manhã servido durante a recepção das participantes teve a sua assinatura. Ela e as demais mulheres demonstraram muita segurança ao falar abertamente sobre os obstáculos que cada uma enfrentou até então e os objetivos que esperam atingir.
A primeira convidada foi Ana Fontes, fundadora da Rede Mulher Empreendedora, ONG que disponibiliza informações para quem quer investir em seu próprio negócio. Atualmente, o número de cadastros ultrapassa os 300 mil. “Vocês, naturalmente, são empreendedoras, mais do que qualquer empresário que eu conheço”, avisou. “Ao sair do seu país, ir para outro que não conhecem, com uma língua e uma cultura diferentes, e tentar se adaptar, vocês já investiram muito nas suas vidas”. Entre as características que ela destacou nas refugiadas, estão a força de vontade, a inquietação, a coragem de assumir riscos, o desejo de fazer algo diferente e a capacidade de realização.
Francine, de 38 anos, chegou da República Democrática do Congo há um ano e meio, sem falar nada de português. Fez aulas do idioma oferecidas por ONGs e hoje trabalha nas Lojas Renner, uma das empresas parceiras da Rede Brasil do Pacto Global no Empoderando Refugiadas. “Eu espero trabalhar como secretária administrativa, como fazia no meu país, mas, no futuro, quero abrir um negócio próprio, não sei ainda o quê”, revelou.
Ana também explicou de forma prática o que significa empreender em um país como o Brasil, sem esconder as pedras no caminho, como a burocracia e a quantidade de impostos. Como ela bem lembrou, leva-se, em média, 120 dias para se abrir uma empresa no país. Outro problema seria o financiamento. “Mulheres têm quatro vezes menos possibilidade de acesso a crédito do que os homens no país”, informou. A falta de profissionais capacitados também foi apontada pela palestrante. Mesmo com 14 milhões de brasileiros desempregados, milhares de vagas de emprego seguem abertas por não encontrarem mão de obra qualificada.
Na sequência, educadores sociais do Consulado da Mulher - que trabalha com mulheres de baixa renda - realizaram uma atividade para ensinar às refugiadas como estruturar seu modelo de negócio a partir do Canvas, uma ferramenta de planejamento estratégico. Eles demonstraram como definir a proposta de valor, o segmento de mercado e os canais de acesso até o cliente, entre outros detalhes importantes. A atividade desafiou as participantes a colocar no papel suas ideias para conseguir visualizar os serviços que elas gostariam de oferecer.
Alimentação e outras áreas
O resultado surpreendeu pela diversidade de áreas com as quais as refugiadas querem trabalhar. A procura no ramo de alimentação ainda é grande, pois muitas apostam também na culinária típica como forma de preservar sua identidade cultural. Mas também surgiram propostas em moda, beleza, artesanato, educação e saúde. “As ideias de negócio estão lá, aguardando, e esses encontros funcionam como gatilho para elas colocarem para fora”, animou-se Erica Zanotti, coordenadora de Relações Institucionais do Consulado da Mulher.
A angolana Chimena, de apenas 19 anos, foi uma das três interessadas na área de saúde. “Quero ser pediatra e ajudar crianças carentes, pois na minha vida toda eu vi que há muita necessidade nesse setor”, justificou. Há dois anos no Brasil, ela cuida sozinha do irmão caçula, pois a mãe precisou voltar para Angola. Ele é hemofílico, tem mobilidade limitada e sempre foi desencorajado por médicos de seu país a andar. No Brasil, encontrou tratamento e, há pouco, jogou até futebol. Durante os estudos, Chimena pretende complementar a renda fazendo tranças de cabelo.
“Para a maioria delas, conseguir um emprego é muito difícil, e empreender surge como uma boa opção”, analisa o argentino Jonathan Berezovsky, diretor da Migraflix, plataforma na qual o imigrante pode oferecer seus serviços (em geral, de caráter cultural ou pedagógico) a brasileiros e gerar renda. “Já vi muita gente desistir de um negócio por não conhecer o funcionamento dele, e esse workshop permite que elas tenham acesso a essas ferramentas”. Após o almoço, ele falaria sobre sua ONG, mas foi além e deu prosseguimento à atividade anterior ouvindo as ideias das participantes e mostrando como muitas delas poderiam unir forças e conhecimento e trabalhar juntas.
Redes sociais
Depois, Claudia Fusco retornou para falar do uso das redes sociais, em especial o Facebook e o Instagram, para ajudar a divulgar um negócio ou um produto, criar um canal direto com os clientes e ainda atingir mais pessoas. Ela também conversou com a síria Razan, de 27 anos, como exemplo de uma refugiada que aprendeu a usar a internet para promover seus serviços. Em 2016, após encontrar um lugar para morar com brasileiros em São Paulo, os vizinhos começaram a recomendar a comida dela a amigos. Nascia aí o seu negócio. “Com esses encontros, aprendi a me organizar e encontrar a melhor forma de divulgar meus pratos. Hoje tenho muitos pedidos de festas e feiras”, comemora.
No meio da tarde, as participantes foram separadas em pequenos grupos para a realização de mentorias (na foto à esquerda), nas quais puderam tirar dúvidas e serem orientadas individualmente pelos profissionais presentes. Participaram como mentores representantes do Facebook, Sodexo, Migraflix, Consulado da Mulher, EduK e Aliança Empreendedora. Para finalizar, Renato Cagno, diretor comercial do portal de ensino à distância EduK, falou da importância da capacitação e da reciclagem profissional para quem pretende empreender. Como brinde, ele ainda anunciou que a empresa vai disponibilizar a todas as refugiadas do evento um ano de acesso gratuito e completo à plataforma, que oferece cursos variados, de moda e beleza a gastronomia e fotografia. O próximo workshop - o último encontro desta edição do projeto - acontece em agosto, cujo foco será a sensibilização das empresas para o tema de refugiados.
O Empoderando Refugiadas é coordenado pela Rede Brasil do Pacto Global - por meio do Grupo Temático de Direitos Humanos e Trabalho -, numa iniciativa conjunta com o ACNUR e a ONU Mulheres. O projeto tem como parceiros estratégicos a Caritas Arquidiocesana de São Paulo, a Fox Time Recursos Humanos, o ISAE e o Programa de Apoio para a Recolocação dos Refugiados (PARR). Além disso, conta com as seguintes empresas parceiras: Carrefour, EMDOC, Facebook, Lojas Renner e Sodexo.