Residentes de acampamento grego trocam tendas por paredes
NEA KAVALA, Grécia, 14 de novembro de 2016 – Logo que Omar Mustafa e sua família se mudaram para a nova acomodação destinada a eles, ele começou a trabalhar na construção de uma cozinha externa e, com pregos, parafusos e um martelo na mão, ele está fazendo uma fechadura improvisada para o novo ambiente.
A família síria, anteriormente alojada em uma tenda, mudou-se há poucos dias e imediatamente começou a transformar as monótonas casas pré-fabricadas em um lar aconchegante.
“A diferença é enorme”, disse Banan, esposa de Omar e mãe de quatro meninos e de duas garotas entre um e doze anos de idade. “Em primeiro lugar, está muito mais quente agora. Estava chovendo novamente esta manhã e foi a primeira vez que não sentimos a chuva”.
Banan, de 32 anos, deve dar à luz ao sétimo filho em dezembro. “Quando estávamos na tenda, a água da chuva conseguia entrar e ficávamos sempre em pânico. Agora basta fecharmos a porta e as janelas e ficamos secos”.
O alojamento para refugiados em Nea Kavala, no norte da Grécia, é um dos oito locais administrados pelo governo do país onde o ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, começou a substituir tendas por containers residenciais, conhecidos como casas pré-fabricadas.
O local, um ex-campo militar, foi preparado pelo exército grego e inaugurado em fevereiro deste ano. Viver em uma tenda tornou-se bastante precário em razão dos ventos constantes que atingem a região.
“Estava chovendo novamente esta manhã e foi a primeira vez que não sentimos a chuva”.
“Nós ainda não sabemos como vai ser no vento forte, mas de qualquer maneira, é muito melhor agora”, disse Omar, de 41 anos. Aqueles que se mudaram para as novas casas pré-fabricadas estão aliviados de estarem protegidos não somente da chuva, do frio e do vento, mas também de insetos, ratos e cobras, que diziam representar um perigo de vida em uma tenda.
Em Nea Kavala, mais de 170 casas pré-fabricadas foram instaladas em uma antiga pista. Apesar de serem próximas, ainda dão privacidade aos moradores.
Cada uma foi melhorada de alguma forma pelos seus residentes. Enquanto mulheres mudam seus pertences para as novas casas, os homens estão usando o que costumava ser o assoalho de madeira das tendas para fazer varandas, cozinhas ao ar livre, sapateiras, prateleiras e divisórias.
Eles cobriram os pisos com tapetes e cobertores do ACNUR para deixar o lugar mais quente e os sapatos são deixados do lado de fora para manter limpo o interior das casas.
“Eu acabei de limpar o lado de dentro. Minha nova cozinha será a próxima”, disse Banan, sentada no maior dos dois quartos, que são separados por uma divisória de madeira e prateleiras feitas por seu marido. “Somos uma família grande. Se fizéssemos a cozinha do lado de dentro, não havia espaço para dormir”.
Seus filhos mais velhos, dois meninos de 10 e 12 anos, sofrem de trauma após o que presenciaram na Síria. Yamen tinha 10 anos e Mustafa 8 quando ataques aéreos atingiram sua cidade natal e a família decidiu buscar segurança em outras partes do país. Depois de alguns anos, eles fugiram para a Turquia e depois para a Grécia, chegando à costa em fevereiro de 2016.
A família vive em Nea Kavala há mais de sete meses e todas as noites Mustafa pede a sua mãe para cobri-lo com várias camadas de cobertores, dizendo que sente frio. Banan disse que as camadas de cobertores o fazem se sentir mais seguro do que quente. Seu irmão mais velho, Yamen, também está lutando com as memorias do conflito.
No entanto, os meninos estão ajudando seu pai com os reparos e sonham grande. Yamen quer se tornar engenheiro e Mustafa, um professor de matemática.
Omar construiu a cozinha com o pouco que tinha, usando ferramentas que comprou com outro refugiado. Na Síria, ele trabalhava como colocador de azulejos e também fazia outros trabalhos de construção. “O início aqui foi muito difícil”, disse Omar calmamente. “Quando trabalho, me sinto um pouco mais aliviado”.
“O início aqui foi muito difícil. Quando trabalho, me sinto um pouco mais aliviado”.
Além de substituir as tendas por cerca de mil containers residenciais em oito locais com financiamento da Comissão Europeia para ajuda humanitária, realocando as pessoas vulneráveis, como as com sérios problemas saúde, o ACNUR também está distribuindo 20 mil itens de inverno, como roupas especiais, sacos de dormir e cobertores térmicos a 38 mil solicitantes de refúgio em locais do continente grego e nas ilhas.
Quinze locais foram designados ao ACNUR pelo Ministério do Interior – Politica de Migração para melhorias na infraestrutura, como instalação de aquecimento. Isso faz parte dos esforços humanitários para preparar para o inverno todos os mais de 40 locais administrados pelo governo.