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Violinista refugiado toca para comunidade canadense

A promissora carreira musical de Sari Alesh foi interrompida pela guerra. Com a ajuda de patrocinadores, o violinista pode tocar novamente.

VICTORIA, Canadá, 30 de dezembro de 2016 - Ao contrário da maioria dos 31 mil refugiados sírios que chegaram ao Canadá no último ano, Sari Alesh, de 31 anos, não trouxe um negócio. Em vez disso, entre suas poucas posses, ele trouxe sua música.

"Eu apenas segui meu coração", diz. "Sempre me disseram: 'Você é um músico e não pode fazer mais nada'".

O jovem violinista chegou sozinho no arquipélago chuvoso da costa oeste do Canadá em fevereiro de 2016 - em seu aniversário - como um dos 400 refugiados sírios reassentados na província de Victoria.

Antes de chegar ao Canadá, a vida de Sari transbordava de música. Com formação clássica em Damasco, na Síria, ele percorreu a Europa e o Oriente Médio com a Orquestra Sinfônica Nacional da Síria, que já tocava para o aclamado cantor libanês Fairuz. Mas a guerra na Síria rapidamente pôs um freio em seu sucesso, deslocando-o junto com mais de 11 milhões de sírios. Em 2014, ele fugiu da capital síria e procurou segurança em Istambul, na Turquia, deixando para trás a família e sua promissora carreira musical.

Antes da Guerra da Síria, Sari foi instrutor de música por seis anos em Damasco. © UNHCR/Annie Sakkab

Em Victoria, Sari rapidamente descobriu que o cenário musical de sua nova casa era tão admirável quanto as imponentes árvores de cedro vermelho da Ilha de Vancouver. Esperando sonatas e árias do tipo europeu clássico, ele descobriu que a música de violino era a mais popular.

No início, ele encontrou refúgio artístico com Faraidoun Akhavan e Paulina Eguiguren, dois de seus patrocinadores. Com Sari em seu violino e Faraidoun em seu barbat, um alaúde persa, a dupla tocou música do Oriente Médio até tarde da noite.

"Viemos aqui e fomos ajudados", diz Paulina, que chegou ao Canadá com seu marido na condição de refugiada há mais de 20 anos. "Para nós, pelo menos particularmente para mim, eu sinto uma conexão espiritual com os outros quando eu sou capaz de ajudar de alguma maneira".

Como muitas pessoas em Victoria, Faraidoun e Paulina desejavam patrocinar uma família ou um indivíduo sírio, mas estavam inseguros do processo. Separadamente, cada um deles se aproximou de uma organização multicultural na cidade que tinha os contratos de patrocínio - o grupo guarda-chuva que lida com o patrocínio privado no Canadá. Mas, enquanto os potenciais patrocinadores falavam, tendo concordado em reunir recursos para um refugiado sírio, eles encontraram algo em comum que os ligava - todos eles tinham fortes conexões com as artes. "Foi perfeito", diz Sabine Lehr, coordenadora da organização que faz a correspondência entre refugiados e patrocinadores.

“Eu sinto uma conexão espiritual com os outros quando eu sou capaz de ajudar de alguma maneira".

Paulina, uma artista, rapidamente se conectou com Sari. "Havia algo nele que era um pouco diferente", diz. "Eu acho que eu identifiquei a arte nele - a compaixão que as pessoas só conseguem quando passam pelo sofrimento".

Por acaso, sua filha Julia também tocava um instrumento. Paulina não estava à procura de um instrutor na época, apesar dos seis anos de experiência de Sari como instrutor de música na Síria. Para sua surpresa, uma química instantânea se desenvolveu entre os dois quando eles tocaram pela primeira vez juntos - uma conexão compartilhada através das notas no papel. Logo, sua casa se encheria com os sons do acordeão de Julia complementado pelo violino de Sari.

"Eles tocaram meu coração rapidamente", diz Sari. "Depois de nos conhecermos por cinco minutos, eles se tornaram família".

A vida nova, mais silenciosa e mais segura de Sari em Victoria era o primeiro sinal de que sua vida e carreira, lentamente desmanteladas pelo conflito, poderiam retornar.

Ele logo recebeu uma bolsa para estudar inglês na Universidade de Victoria. Foi uma oportunidade para melhorar ainda mais suas habilidades na língua e mergulhar na comunidade, sonhando em ganhar um diploma em educação que lhe permita ensinar música em escolas públicas.

Enquanto estava na universidade, ele desenvolveu um programa para ensinar música para estudantes com síndrome de Down, ansioso por compartilhar sua paixão pela música com os outros. "Quando eu ensino música, eu os ajudo a melhorar suas habilidades", diz Sari. "Quando encontro-os mais tarde e acho que eles estão melhorando, eu sinto orgulhoso deles - e de mim também".

O músico se tornou uma presença mais visível na escola e outras pessoas perceberam. O maestro Ajtony Csaba foi um deles, e ofereceu a Sari a chance de tocar na Orquestra da Universidade de Victoria. Ele rapidamente se tornou um músico muito procurado para shows beneficentes e eventos comunitários, e foi convidado a se apresentar nos gramados da Assembléia Legislativa da Colúmbia Britânica no Dia do Canadá.

"Foi uma grande honra para mim tocar no Dia do Canadá", lembra Sari. "Eu não posso descrever meus sentimentos, foi maravilhoso". 

Sari pratica com seu professor, Michael, no Conservatório de Música de Victoria. © ACNUR/Annie Sakkab

Mas a guerra custou caro de outros modos - o rápido movimento de dedos de Sari havia diminuído devido à falta de treinamento rigoroso em seus anos de fuga.

Um de seus patrocinadores, Heather Ferguson, estava no conselho do Conservatório de Música de Victoria. Com enteados da mesma idade de Sari, ela se sentia determinada a ajudá-lo. "Se alguma vez suas vidas foram destruídas e estavam em necessidade, eu esperaria que alguém, em algum lugar do mundo, pudesse dar-lhes uma mão amiga", diz.

Ela arranjou um dos melhores professores de cordas do Canadá, Michael van der Sloot, para orientar Sari a recuperar as habilidades que tinham se atrofiado ao longo dos anos de fuga da guerra. Isolado em um pequeno escritório no conservatório, Sari mergulhou na música com seu professor. As notas tornaram-se uma lembrança da sua vida na Síria. As melodias eram diferentes, mas as ações eram reconfortantes.

"Quando você toca música, você oferece seus sentimentos, eu não ofereço nada mais", diz Sari. "Quando as pessoas amam minha música, isso significa que elas entendem minha mensagem".