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Vencedora do Prêmio Nansen transforma os sonhos de meninas em realidade

Aqeela Asifi, vencedora do Prêmio Nansen para os Refugiados de 2015, expande sua escola no Paquistão, dando às meninas refugiadas acesso à educação secundária pela primeira vez.

KOT CHADANA, Paquistão, 16 de dezembro de 2016 - Para jovens afegãs como Palvashey, de 13 anos, que vivem como refugiados na remota aldeia de Kot Chandana, no Paquistão, a educação costuma terminar quando completam 14 anos de idade.

Sua escola improvisada, que antes era uma clínica de saúde, tem apenas cinco salas e mobília, material escolar e recursos severamente limitados. A falta de espaço e de materiais educativos significa que as crianças mais jovens são priorizadas pelos professores e que os mais velhos têm de sacrificar a sua escolaridade no final da oitava série. Mas tudo isso está mudando agora.

 "Meus alunos sempre pediam a mesma coisa - serem capazes de continuar estudando após o oitavo ano."

 Na cerimônia de inauguração do novo prédio em setembro de 2016, Aqeela falou sobre sua motivação. "Meus alunos sempre pediam a mesma coisa - serem capazes de continuar estudando após o oitavo ano", disse. "Agora podemos fazer este sonho virar uma realidade."

Graças ao investimento de Aqeela de mais de 64 mil dólares em três novas salas de aula, um banheiro e um laboratório de ciências totalmente equipado, a primeira classe de garotas da nona série tem um espaço para continuar aprendendo. Novos professores foram contratados, livros e materiais de ensino foram comprados e as salas de aula equipadas com mesas, cadeiras e um quadro negro.

Palvashey é uma das alunas prestes a começar a nona série. Ela não perdeu nenhum ano escolar, mas alguns de seus novos colegas não tiveram tanta sorte. Muitos não tiveram outra opção a não ser abandonar a escola e estão voltando a estudar depois de uma longa pausa. A turma de 11 alunos agora tem a chance de concluir o ensino médio e a chance de um futuro melhor.

Meninas afegãs frequentam a escola onde Aqeela investiu mais de 64 mil dólares em três novas salas de aula, um banheiro e um laboratório de ciências totalmente equipado. © ACNUR/Sara Farid

As paredes do novo bloco de ciências estão repletas de cartazes que retratam a anatomia humana e livros enchem as prateleiras. Os tubos de ensaio, os queimadores Bunsen e os microscópios são colocados em mesas, prontos para que a primeira turma inicie as aulas de química, biologia e física. E são essas habilidades que farão as ambições de Palvashey se tornarem realidade. "Embora o inglês seja minha disciplina favorita na escola, quero me tornar uma médica e salvar muitas vidas", diz.

O Afeganistão enfrenta uma das maiores e mais prolongadas crises de refugiados no mundo. Dos 1,34 milhões de refugiados afegãos que vivem no Paquistão, quase metade deles são crianças. O acesso à educação é considerado uma ferramenta essencial para o sucesso da repatriação, reassentamento ou da integração local.

A escola de Aqeela é uma das poucas do Paquistão que oferece educação a crianças refugiadas com mais de 12 anos de idade - uma situação que infelizmente é muito comum. Um relatório divulgado em setembro pelo ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, descobriu que mais da metade - 3,7 milhões - dos seis milhões de crianças em idade escolar sob seu mandato em todo o mundo não têm escola para ir.

Cerca de 1,75 milhão de crianças refugiadas não estão na escola primária e 1,95 milhões de refugiados adolescentes não estão na escola secundária, segundo o relatório. Os refugiados são cinco vezes mais propensos a estar fora da escola do que a média global, enquanto apenas uma fração - um por cento – vai mais longe nos estudos.

Aqeela Asifi ajuda uma de suas jovens alunas. A vencedora do Prêmio Nansen de 2015 começou esta escola em 1992 com uma tenda emprestada e textos manuscritos. © ACNUR/Sara Farid

A expansão da escola em Kot Chandana representa mais um marco importante para Aqeela, que fugiu da capital afegã, Cabul, com seu marido e duas crianças pequenas em 1992. Ela tinha apenas 26 anos quando chegou a este remoto campo de refugiados na província de Punjab no Paquistão, sem a menor ideia de que passaria décadas de sua vida como refugiada.

Com início humilde - uma tenda emprestada e textos manuscritos - Aqeela desenvolveu uma pequena escola e ajudou mais de mil meninas estudarem até a oitava série.

 "Quando vejo uma caneta nas mãos de meus alunos e vejo-os escrevendo e aprendendo, essa visão fortalece minha determinação."

 Durante a cerimônia de inauguração da escola, Indrika Ratwatte, Representante do ACNUR no Paquistão, destacou o compromisso de Aqeela. "A dedicação de Aqeela em promover a educação de refugiadas afegãs no Paquistão é excepcional", disse.

Para Aqeela, que dedicou sua vida a dar às meninas oportunidades de aprendizagem, ver salas de aula cheias de alunos animados é uma inspiração. "Quando vejo uma caneta nas mãos de meus alunos e vejo-os escrevendo e aprendendo, essa visão fortalece minha determinação", diz. "Esta visão me dá a coragem e a determinação de continuar minha missão de educar até o meu último dia".

E agora, Aqeela está um passo mais perto de alcançar seu próprio sonho - voltar para casa, no Afeganistão, para ajudar os refugiados retornados a reconstruir suas vidas. Ela planeja gastar o restante do Prêmio Nansen para estabelecer pequenos centros de aprendizado informais em Cabul, para crianças que podem ter perdido anos escolares enquanto estavam no exílio.

"Se você quer ajudar as pessoas, eu acredito que proporcionar educação é o melhor serviço que alguém pode oferecer à sociedade", diz.

Se você souber de um indivíduo ou organização dedicada a melhorar a vida das pessoas que foram deslocadas a força de suas casas, indique seus nomes para concorrer ao Prêmio Nansen para Refugiados.