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Refugiados servem comidas típicas em festival gastronômico na França

Os restaurantes de Estrasburgo abriram suas cozinhas a chefes refugiados e mudam as percepções e os paladares.

ESTRASBURGO, França, 29 de dezembro de 2016 - Seis restaurantes em Estrasburgo abriram as suas cozinhas para chefes refugiados no período que antecedeu o Natal, permitindo-lhes servir os pratos de suas pátrias e reunir diferentes culturas por meio da comida.

O Festival Gastronômico de Refugiados foi uma iniciativa da Food Sweet Food, uma organização especializada na formação de conexões entre pessoas por meio de eventos culinários, livros e documentários, e o ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados.

O objetivo era mudar a forma como os refugiados são percebidos, ao mesmo tempo em que permite que os moradores desfrutem as festividades sazonais de Estrasburgo para saborear novos sabores e descobrir outras culinárias.

 

“Por trás da crise dos refugiados estão mulheres, crianças e homens que vêm para a França com talentos... e que só estão à espera de serem descobertos".

"O Festival Gastronômico de Refugiados é um lembrete de que por trás da crise dos refugiados estão mulheres, crianças e homens que vêm para a França com talentos, profissões e habilidades valiosas, que só estão à espera de serem descobertos", diz Marine Mandrila, co-fundadora da Food Sweet Food com o colega parisiense Louis Martin.

Os restaurantes participantes estão servindo pratos afegãos, sírios e tibetanos e às vezes inventam novas receitas.

"Quando ouvi falar do festival, era evidente para mim que tínhamos que participar. Está em harmonia com o espírito do restaurante de abertura para novas culturas e tradições culinárias", diz Frederic Muller, proprietário do restaurante francês-vietnamita Le Mandala, que tem como destaque a cozinha de fusão, combinando as tradições culinárias da Alsácia, Vietnã e Afeganistão.

Hussam Khodari, cozinheiro refugiado sírio, prepara um brunch no restaurante Café con Leche. © ACNUR/Benjamin Loyseau

Todos os chefes refugiados que participam são profissionais em seus países de origem e estão usando suas habilidades culinárias para se integrar social e profissionalmente na França.

"Queremos usar nossas habilidades, mostrar nossos talentos, e também aprender mais sobre a culinária francesa", diz Hussam Khodari, um cozinheiro sírio refugiado que está cozinhando um brunch sírio no restaurante Café con Leche. A refeição inclui moutabal (pasta árabe feita com berinjela), falafel (bolinhos de grão-de-bico), labneh (iogurte), fatteh (prato de café da manhã sírio) e ful (prato feito com feijão do tipo fava).

"Queremos usar nossas habilidades, mostrar nossos talentos, e também aprender mais sobre a culinária francesa".

O proprietário do Café con Leche, Mohammed El Ouariachi, diz que ele e Hussam rapidamente encontraram coisas em comum. "Falamos sobre culinária e comida imediatamente".

Todos os restaurantes que participam do festival concordam que a chegada de novas pessoas e de novos talentos é um aditivo para a cultura alimentar francesa, que sempre foi enriquecida por sabores estrangeiros.

"O festival também procura dar-lhes uma vantagem e facilitar seu acesso ao emprego", diz Louis Martin, co-fundador da Food Sweet Food.

Cardápio e diferentes pratos preparados por Hussam. © ACNUR/Benjamin Loyseau

Os proprietários de restaurantes que participam do Festival Gastronômico de Refugiados concordam que o evento e a descoberta de novos talentos culinários podem criar oportunidades de emprego para os chefes refugiados.

"O restaurante está com as reservas esgotadas por duas semanas", diz Frederic Muller. Com o sucesso do festival, eles estão pensando em contratar o chef convidado afegão Ahmadzai temporariamente, com a possibilidade de efetivá-lo.

A ideia do festival baseia-se na solidariedade e convívio, bem como no amor pela comida e no desejo de trazer o talento culinário recém-chegado ao cenário alimentar francês.

"O festival também procura dar-lhes uma vantagem e facilitar seu acesso à oportunidades de emprego".

O festival é um projeto importante para o ACNUR. Além de seus programas humanitários, a agência se esforça para ajudar os refugiados a reiniciar suas vidas o mais rápido possível e em traçar um futuro para eles.

A aprendizagem de línguas e competências e a aquisição de qualificações profissionais são essenciais para a integração financeira, social e cultural dos refugiados nas sociedades que os acolhem. Pesquisas mostram que os refugiados contribuem para a economia de um país se tiverem a oportunidade de trabalhar e se integrar.

Festival Gastronômico de Refugiados será seguido por um evento maior a ser realizado em junho de 2017 em várias cidades europeias. Um kit está sendo preparado e estará disponível online para pessoas que pretendem organizar festivais de comida de refugiados nas suas próprias cidades.