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Refugiada síria conduz a Tocha Olímpica em Brasília

Hanan, estudante síria de 12 anos, conduziu a Tocha Olímpica na primeira parte do trajeto do revezamento no Brasil rumo ao Rio de Janeiro para a abertura dos jogos olímpicos.

 

 

BRASÍLIA, Brasil, 03 de maio (ACNUR) – Rodeada por brasileiros alegres e animados, a refugiada síria de 12 anos de idade, Hanan Daqqah, ergueu a chama olímpica e conduziu-a por cerca de 200 metros na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, no início do revezamento que percorrerá o país anfitrião dos Jogos Olímpicos que acontecerão em agosto.

 

O gesto simbólico mostrou solidariedade com as pessoas deslocadas em todo o planeta, no momento em que aproximadamente 60 milhões de pessoas no mundo, assim como Hanan, foram forçadas a deixar os seus lares devido a guerras ou perseguições.

Foi um momento de grande alegria para a jovem que, junto com sua família, foi obrigada a deixar seu lar em Idlib, cidade localizada a noroeste da Síria, para buscar segurança e um recomeço do outro lado do mundo no Brasil, a partir de um programa especial de vistos especiais que dá aos sírios a oportunidade de recomeçar suas vidas.

Estudante do ensino médio em uma escola de São Paulo, Hanan correu com a Tocha Olímpica pela Esplanada dos Ministérios, enquanto uma multidão animada cantava, interagia e tirava fotografias. Centenas de servidores públicos que trabalham nos prédios governamentais desceram para conferir de perto este momento tão especial.

“O mais importante do esporte é se divertir e fazer amigos”, disse Hanan. “Ao carregar a Tocha Olímpica, o mundo inteiro saberá que os refugiados são pessoas reais e que nós podemos fazer coisas positivas", acrescentou.

A chama chegou ao Brasil hoje e será conduzida por 300 cidades rumo à cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos no Maracanã, no Rio de Janeiro, onde acenderá a Pira Olímpica.

Hanan foi selecionada para conduzir a tocha na primeira parte do trajeto de sua jornada pelo Brasil pelo Comitê Organizador da Rio 2016, a partir de uma sugestão da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) no Brasil. Ela é a segunda refugiada a carregar a chama. Seu compatriota Ibrahim Al-Hussain conduziu a tocha na semana passada em um centro de refugiados em Atenas, Grécia.

Hanan, seu pai Khaled, sua mãe Yusra, seu irmão Mostafá e a irmãzinha Yara vieram para o Brasil com outros parentes há um ano, depois de terem vivido por dois anos no campo de refugiados de Zaatari, na Jordânia.

Eles foram beneficiados pelo programa brasileiro direcionado aos sobreviventes da guerra na Síria, que lhes permitiu viajar para o Brasil por meio de processo de visto simplificado. Até agora, cerca de 8.000 vistos foram emitidos pelas autoridades brasileiras.

Já com fluência em português, Hanan frequenta a escola em São Paulo onde ela rapidamente fez amigos brasileiros. Ela está ajudando sua família a se adaptar ao país onde o pai reconhece como sendo o lugar o qual o permitiu “voltar a ser humano”.

Durante o revezamento da Tocha Olímpica de hoje, na Esplanada dos Ministérios, Hanan estava ao lado de diversos medalhistas olímpicos brasileiros (como a jogadora de vôlei Paula Pequeno e o maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima, além de Gabriel Media, ex-campeão mundial de surf. “Hoje, não estou me sentindo como uma refugiada. Estou me sentindo como qualquer outra brasileira carregando a tocha”.

Ela aproveitou a oportunidade para agradecer o Brasil e os brasileiros por terem recebido sua família, e disse que espera que sua participação no revezamento da tocha “envie uma mensagem por um mundo sem guerras e mais amigos”.

Este ano, pela primeira vez, uma equipe de atletas refugiados competirá sob a bandeira olímpica. Os integrantes da equipe serão anunciados no início de junho.

Na semana passada, a chama olímpica fez uma parada simbólica na Suíça antes de vir para o Brasil. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon aproveitou a ocasião para homenagear os atletas refugiados.

"Congratulo o time de refugiados e saúdo-os com todas as minhas forças. A equipe oferece a oportunidade a talentosos atletas que foram forçados a fugir de suas casas de conquistar uma medalha de ouro", disse ele. "O mundo verá os refugiados como eles merecem ser vistos - como pessoas talentosas, fortes e inspiradoras. Ganhando ou perdendo, eles são os campeões do espírito olímpico ".

O conflito em curso na Síria é o principal motivo da atual crise global de refugiados. Mais de 4,8 milhões de sírios foram forçados a buscar refúgio em países vizinhos, e muitos outros, assim como Hanan, foram buscar segurança ainda mais longe.

Para saber mais da história de Hanan e da sua família no Brasil, clique aqui.

 Por Luiz Fernando Godinho, em Brasília, Brasil