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Jovem refugiado de etnia Rohingya de Mianmar supera preconceitos e se destaca na Malásia

Apesar de um começo turbulento no centro de ensino, Ishak se dedicou com determinação para se tornar um grande jogador de futebol, um aluno exemplar e o primeiro membro de sua família a concluir os estudos.

KUALA LUMPUR, Malásia, 24 de outubro de 2016 (ACNUR) – Com apenas 15 anos, Ishak já carrega o peso das expectativas de sua família. Além de superar a discriminação racial e os desafios adicionais trazidos pelo status de refugiado, ele acabou se tornando um dos jogadores de futebol do time de sua escola, um aluno exemplar e, possivelmente, a primeira pessoa de toda a sua família a completar os estudos.

“Lá no meu país, as crianças da pré-escola costumavam zombar de mim por causa da cor da minha pele”, relembra o refugiado rohingya, cujo os pais nasceram no Estado Rakhine, em Mianmar. “Eles me chamavam de escuro e me perguntavam o que eu estava fazendo lá. Mas os professores sempre me apoiaram e explicaram que aquilo era errado”.

Quando ele chegou na Malásia, há oito anos, surgiram outras questões. Lá, refugiados não têm acesso ao sistema de educação. Assim, a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), algumas ONGs parceiras e as próprias comunidades de refugiados apoiam e estruturam um sistema educacional paralelo.

Hoje, existem mais de 120 centros de aprendizagem comunitários para refugiados e solicitantes de refúgio por toda a Malásia, sendo que muitos deles enfrentam problemas como salas de aula lotadas e recursos limitados. Outros desafios estão relacionados à alta rotatividade de professores, estudantes que abandonam os estudos por razões financeiras ou culturais e oportunidades limitadas no ensino superior.

“É muito caro ir para escola, temos que pagar taxas, transporte e outras despesas”, reconhece Ishak, que estuda em um centro em Kuala Lumpur. Ele observa que seu irmão mais velho teve que abandonar os estudos para dar apoio à família.

A mãe de Ishak está convicta de que o filho deve continuar os estudos: “Ela acredita que a educação pode tornar a vida melhor, mas nunca me pediu para ser médico ou algo assim. Ela apenas disse ‘seja uma pessoa bem-sucedida, com um título que te destaque perante a sociedade e que te garanta uma identidade própria’”.

Ishak aproveitou o máximo a oportunidade que frequentemente é restrita aos refugiados em idade escolar. Um relatório publicado pelo ACNUR no último mês destacou a crise na educação de refugiados, revelando que mais da metade dos 6 milhões de crianças em idade escolar sob o seu mandato não têm escola para ir.

“Lá no meu país, as crianças da pré-escola costumavam zombar de mim por causa da cor da minha pele”.

Quando os recursos da família estavam escassos, o centro de ensino primeiramente ofereceu um desconto sobre a mensalidade, e em seguida conseguiu um patrocinador para Ishak. O centro é administrado pela Dignity for Children Foundation, que conduz um dos programas educacionais mais abrangentes para os habitantes mais pobres da Malásia, da pré-escola ao ensino médio e também treinamento vocacional.

Para Ishak, o centro de ensino é seu segundo lar. Além de ter aulas de suas matérias favoritas como matemática, física e contabilidade, ele gosta de dividir a classe com colegas do mundo inteiro, com consciência de que o momento é transitório.

Há cerca de 21.700 crianças refugiadas em idade escolar na Malásia. Apenas 30% deles têm acesso à educação em centros de ensino voltados para as comunidades informais. © ACNUR / Ted Adnan.

“Sei que meus amigos não estarão aqui para sempre. Alguns serão reassentados, outros voltarão aos seus países de origem e alguns deles terão que abandonar seus estudos devido aos custos. Eu sei que nós somos especiais e que este é um momento que tenho que valorizar”.

Ishak está atualmente na série Form 4, há um ano de prestar o exame para conseguir seu certificado internacional de educação secundária. Quando se formar, ele espera retornar ao centro de ensino como voluntário para dar aulas aos mais novos ou apoiar o departamento de esportes.

Sua paixão pelos esportes foi recentemente recompensada quando, depois de seis anos de treinamentos e competições, ele ajudou o time de futebol do centro a ganhar o campeonato Faisal Cup, um encontro esportivo anual entre os centros refugiados da Malásia.

“Meu sonho é jogar futebol pelo Manchester United”.

“Meu sonho é jogar futebol pelo Manchester United, meu time de coração. Se for possível, eu gostaria de representar um país”, disse. “Mas será difícil para alcançar esse sonho. Eu pretendo estudar engenharia para garantir que eu possa sustentar a mim e a minha família no futuro, caso eu não consiga realizar esse sonho”.

Graças ao centro de ensino, Ishak terá uma chance real de romper o ciclo de deslocamento e pobreza, uma oportunidade que pouquíssimos jovens refugiados têm. Dos mais de 21.000 refugiados e solicitantes de refúgio em idade escolar na Malásia, menos da metade está matriculado no ensino primário e apenas um quinto frequenta o secundário.

O ACNUR está trabalhando com ONGs e comunidades para intensificar o acesso, a qualidade e a sustentabilidade da educação informal para jovens refugiados e solicitantes de refúgio na Malásia.

Por: Vivian Tan em Kuala Lumpur, Malásia.