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100.000 civis estão sitiados em cidade do Sudão do Sul

Para fugir de conflitos e buscar segurança, civis vão para a cidade de Yei e se juntam a milhares de pessoas que estão impossibilitadas de deixar o local devido às operações militares que continuam em curso.

YEI, Sudão do Sul, 04 de outubro de 2016 (ACNUR) – Operações militares que estão em curso, em uma região que estava em paz no Sudão do Sul, fizeram com que cerca de 100.000 pessoas ficassem sitiadas em uma cidade, gerando uma crise humanitária e trazendo sérias preocupações sobre a segurança de civis.

Mais de 30.000 pessoas foram forçadas a se deslocar para Yei, no extremo sul do país, após uma onda de saques e conflitos fatais em cidades vizinhas durante o mês de setembro, de acordo com o relato de líderes religiosos à Agência da ONU para Refugiados (ACNUR). O ACNUR diz estar extremamente preocupado em relação a essas pessoas que estão sitiadas na cidade que fica 150 quilômetros ao sudoeste da capital Juba.

“Eles estão abatendo pessoas inocentes como se fossem animais”.

A população deslocada se juntou a outros milhares de pessoas que deixaram seus lares devido aos combates de julho. As comunidades deslocadas agora vivem junto com a população de Yei, cerca de 60.000 pessoas. Esses civis não têm como partir e têm enfrentado crescentes atos de violência.

“Eles estão abatendo pessoas inocentes como se fossem animais”, disse uma jovem que, temendo represálias, preferiu não revelar seu nome. “Isso é muito brutal. Não entendo porque nos tornamos alvos de repente. Eu pensei que as guerras fossem entre exércitos. Nós somos cidadãos desse país. Me sinto sem esperança. Não posso fazer nada além de rezar pela paz”.

Diversos civis foram golpeados até a morte, inclusive mulheres, crianças e bebês, contou uma testemunha à missão de agências liderada pelo ACNUR, no dia 27 de setembro. Relatos apontam que homens fardados detiveram alguns jovens acusados de terem apoiado grupos de oposição ao governo. Muitos outros foram agredidos e tiveram suas casas saqueadas ou queimadas.

“Não podemos sair daqui, nem mesmo para ir até nossas plantações.”

Até recentemente, a cidade de Yei não tinha sentido os efeitos dos confrontos iniciais do Sudão do Sul. Porém, tensões políticas começaram a emergir no final de 2015 e a segurança se deteriorou rapidamente depois que um novo conflito eclodiu na capital Juba, em julho.

“Não podemos sair daqui, nem mesmo para ir até nossas plantações”, disse ao ACNUR um agricultor de 50 anos de idade. “Há militares e postos de controle ao redor da cidade. Nossa colheita está apodrecendo. Precisamos começar a plantar agora, caso contrário, não teremos alimentos no próximo ano”.

Deslocados internos necessitam de alimentos, utensílios domésticos, medicamentos e as crianças precisam ir para a escola, disse o ACNUR. O preço dos alimentos está subindo rapidamente, hospitais locais estão funcionando com capacidade reduzida e há registros do aumento de incidências de violência sexual e de gênero, além de crianças desacompanhadas e separadas de suas famílias.

“O ACNUR condena esses atos que causaram a morte, o medo e o sofrimento de pessoas inocentes”, disse Ahmed Warsame, Representante do ACNUR no Sudão do Sul. “Nós estamos pedindo que o governo do Sudão do Sul proteja a vida da população civil, garanta sua liberdade de ir e vir e também o acesso à segurança. O ACNUR saúda a igreja local por oferecer abrigo e proteção às pessoas que necessitam”.

Tanto os refugiados como os cidadãos sul-sudaneses foram afetados pelo conflito. Grupos armados entraram por diversas vezes no assentamento de refugiados chamado Lasu disparando tiros, agredindo refugiados, roubando e destruindo bens humanitários e outros materiais, relataram algumas lideranças locais à missão ACNUR em Yei. Uma jovem refugiada congolesa foi morta deixando suas duas crianças órfãs.

Milhares de deslocados internos se reúnem em frente à catedral Emmanuel Yei, no Sudão do Sul, durante uma missão de alto nível, em setembro de 2016. © ACNUR / Rocco Nuri

“É inaceitável que um local concebido para oferecer abrigo a pessoas que fogem de guerras e perseguições tenha se tornado o alvo de atos insensatos de violência”, disse Warsame. “Solicitamos que todas as partes respeitem o caráter civil e humanitário do refúgio e dos assentamentos para refugiados”.

Dabide Lokonga Moses, governador do Estado de Yei River, garantiu à delegação das agências grandes esforços para restabelecer a paz e a segurança para a população de Yei.

Em Juba, parceiros humanitários do ACNUR estão respondendo à situação e se preparando para o abastecimento de alimentos, assim como para o fornecimento de abrigos, utensílios domésticos de emergência e medicamentos.

Desde o dia oito de julho, a deterioração da segurança no Sudão do Sul já forçou o deslocamento de 200.000 pessoas, elevando o número de refugiados sul-sudaneses em países vizinhos para mais de um milhão.

No Sudão do Sul, existe mais de 1,61 milhão de deslocados internos e outras 261.000 pessoas refugiadas do Sudão, República Democrática do Congo, Etiópia e República Centro-Africana.