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Chefe do ACNUR diz que Grécia necessita de ajuda da UE para conter a crise refugiados

Filippo Grandi afirmou que o governo continua a enfrentar grandes desafios, sobretudo se os países da União Europeia não impulsionarem programas de realocação e reunião familiar.

ATENAS, Grécia, 24 de agosto de 2016 (ACNUR) – A Grécia continua a enfrentar grandes desafios para conduzir a crise de refugiados, especialmente se os países da União Europeia (UE) não intensificarem seus programas de realocação e reunião familiar, disse o Alto Comissário das Nações Unidas para Refugiados, Filippo Grandi, na última quarta-feira (24), durante sua visita ao país.

De acordo com dados da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), a costa grega foi a porta de entrada na UE para mais de 856.000 refugiados e migrantes no último ano. Mesmo com a significativa diminuição dos fluxos neste ano, cerca de 50 mil pessoas continuam no país e algumas continuam chegando diariamente.

Embora as condições nos centros de acolhimento estejam melhorando lentamente, muitas pessoas ainda vivem em locais superlotados e inadequados enquanto aguardam soluções para o seu futuro.

“Os desafios são muito graves e precisamos continuar enfrentando-os juntos”, disse Grandi. “Especialmente em relação aos locais onde os refugiados vivem, é necessário dar atenção às condições de vida, proteção e superlotação das ilhas. Todas estas questões continuam sob responsabilidade do governo grego”.

“Os desafios são muito graves e precisamos continuar enfrentando-os juntos”

Desde que assumiu a posição de chefe do ACNUR no início do ano, esta é a segunda visita de Grandi à Grécia. Ele enfatizou a necessidade dos membros da União Europeia acelerarem o processo para opções legais como a reunião familiar e a realocação por meio do programa oficial de realocação da União Europeia.

Até agora, 3.054 refugiados foram realocados da Grécia para outros estados membros da UE, enquanto outros 3.606 estão aguardando para partir nos próximos meses. Ainda assim, o apoio é insuficiente, já que os Estados membros prometeram apenas 8.003 realocações dentro das 66.400 que haviam se comprometido a cumprir anteriormente.

“Eu vou continuar defendendo que implementação destes programas seja mais ampla e rápida”, disse Grandi. “Isso pode e deve funcionar”.

Enquanto isso, torna-se difícil garantir moradias adequadas já que a permanência de refugiados na Grécia se torna cada vez mais longa. O ACNUR e seus parceiros, que incluem seis ONGs e as prefeituras de Atenas e de Salônica, providenciaram acomodações em apartamentos de prédios e hotéis para mais de 10.300 candidatos à realocação e solicitantes de refúgio em situação de vulnerabilidade. Lá, eles recebem alimentos, cuidados de saúde e apoio psicossocial em um programa instituído pela Comissão Europeia.

Na quarta-feira de manhã, Grandi se encontrou com o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, e o presidente, Prokopis Pavlopoulos. Em seguida, o chefe do ACNUR visitou um abrigo para crianças desacompanhadas administrado pela Praksis, uma ONG grega apoiada pela Agência da ONU para Refugiados. Ele também conheceu três gerações de uma família síria que está vivendo em um apartamento que faz parte de um plano de apoio de acomodações criado pelo ACNUR e a prefeitura de Atenas.

No abrigo da Praksis, Grandi conheceu Waris*, um rapaz de 14 anos de Baghlan, no Afeganistão, que foi para a Europa há quatro meses. Ainda que ele tenha partido com a sua família – sua mãe, seu pai e três irmãos mais novos – eles se separaram na fronteira entre o Irã e a Turquia em meio a um tiroteio. Waris continuou sozinho sua jornada da Turquia até a Grécia, pressionado por um contrabandista.

Desde que chegou, Waris ainda não conseguiu se reencontrar com seus pais e irmãos, e teme que eles tenham morrido.

“Foi horrível. É muito difícil não saber se a minha família está viva”, disse Waris sobre a sua jornada. “Mas nos últimos dias, minha advogada localizou meu tio no Reino Unido, e vai realizar a nossa reunião familiar. Agora já posso olhar adiante”.

Crianças desacompanhadas na Grécia representam uma prioridade para o ACNUR. Cerca de 1.472 estão em uma lista de espera por um abrigo seguro. Até agora, o ACNUR já providenciou 345 espaços em abrigos temporários para crianças desacompanhadas. Outros 245 espaços já estão sendo planejados.

“Nós perdemos tudo em nosso país, por isso estamos ansiosos para estar em algum lugar seguro”.

Grandi se referiu ao centro de Praksis como um modelo na assistência de crianças desacompanhadas. O abrigo é o lar de 21 meninos com idade entre sete e dezessete anos que vieram da Síria, Afeganistão, Paquistão e outros países. Eles recebem assistência 24 horas por dia e alguns frequentam a escola da vizinhança. Todos chegaram à Europa sem seus pais ou parentes, e muitos passaram algum tempo retidos em centros de detenção na Grécia, ou vivendo nas ruas antes de chegarem ao abrigo.

Posteriormente, Grandi visitou as três gerações de uma família que deixaram Alepo em fevereiro depois que suas casas e a padaria, a fonte de renda familiar, foram bombardeadas. Um dos membros da família foi assassinado e outro, sequestrado.

Metade da família será realocada na França, enquanto os outros aguardam a reunião com o pai que está na Alemanha. “Nós perdemos tudo em nosso país, por isso estamos ansiosos para estar em algum lugar seguro”, disse o pai da família Mohamed Wafa Barri, de 58 anos.

Antes de se encontrar com o presidente Pavlopoulos, Grandi conversou com a imprensa e expressou sua gratidão pela Grécia pelo exemplo que tem dado ao mundo.

“Quero agradecer à população da Grécia, mas também às instituições gregas: o governo grego, à guarda costeira helênica, à polícia, às prefeituras, aos voluntários das organizações que têm continuamente ajudado as pessoas que desembarcam na costa grega como refugiados e, muitas vezes, migrantes em situação de vulnerabilidade. Em um mundo e contexto que se tonaram tão hostis e fechados para os refugiados, a Grécia tem sido exemplar”.

*Os nomes foram alterados para proteger os entrevistados.

Por Tania Karas.