Evento estimula ideias inovadoras para superação dos desafios de refugiados e imigrantes no Brasil
São Paulo, 29 de junho de 2016 (ACNUR) - O arquiteto palestino Leon Diab, refugiado no Brasil, e o jornalista Alphonse Nyembo, imigrante da República Democrática do Congo, e sentaram-se no último dia 25 a uma mesa com brasileiros para expor as dificuldades enfrentadas desde o momento que desembarcaram no país. A barreira do idioma, a ausência de orientações em portos e aeroportos, a pouca oferta de abrigos e hospedarias, o preconceito local à condição de “refugiado”, os empregos abaixo das qualificações profissionais e a dificuldade de interação com os brasileiros foram obstáculos expostos por eles durante relatos nada confortáveis aos ouvidos de seus colegas brasileiros.
Leon e Alphonse fizeram parte de uma iniciativa do Impact Hub e do Migraflix, com apoio da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), para que refugiados e imigrantes encontrem, junto com brasileiros, soluções criativas e inovadoras para seus desafios. Inédita no Brasil, a iniciativa recebeu o nome de “Dream Makers Creatathon: Facilitando Sonhos para Novos Brasileiros” e foi inspirada nos hackathons, os eventos com 72 horas de debates de ideias inovadoras para solucionar problemas do cotidiano.
A experiência do último final de semana reuniu 13 refugiados e imigrantes e 22 brasileiros na sede do Impact Hub, em São Paulo. Cinco grupos foram compostos com a finalidade de desenhar projetos capazes de superar obstáculos de refugiados nas etapas de acolhida, integração e fortalecimento de conexões no Brasil. Os grupos se valeram dos relatos dos refugiados presentes, de palestras do ACNUR e do Migraflix, de conceitos de empreendedorismo e design thinking e de dados estatísticos para desenvolver ideiais e lançá-las ao debate geral.
Esses trabalhos resultaram em cinco projetos preliminares, que serão revistos e aperfeiçoados em setembro: plataforma digital para a integração de imigrantes/refugiados; programa de hospedagem temporária e solidária; portal de referência sobre o Brasil e suas condições de formalização de estrangeiros, direcionado aos interessados no refúgio/emigração; consultoria para facilitar a contratação de refugiados e imigrantes por empresas; kit com ajuda de transportes, material de higiene pessoal e informações para os recém-chegados.
As propostas tiveram como premissa a independência de ações das três esferas de governo. Cada projeto proposto terá de realizar-se e tornar-se viável sem a necessidade de recursos nem de aprovação oficial. “Vamos esquecer de tudo que dependa de governo”, receitou Leon Diab a seus colegas, em coerência com o espírito do Creatathon.
Nos intervalos, refugiados e imigrantes da Síria, Colômbia, França e Marrocos ofereceram refeições inspiradas na cozinha tradicional de seus países e conversaram com os participantes sobre suas próprias experiências no Brasil. Houve também leitura de poesias e apresentações musicais.
Os dois dias de trabalhos foram acompanhados especialmente por Corinne Gray, diretora da Unidade de Inovação do ACNUR, em Genebra. O espírito do Creatathon, ressaltou ela, está em linha com o trabalho do ACNUR e de sua área de inovação.
“Nós acreditamos que o refugiado, o solicitante de refúgio e o imigrante são os especialistas sobre suas próprias condições de vida e têm de tomar parte da construção das soluções para seus problemas”, afirmou Corinne, durante sua exposição. “As soluções não estão dentro de nossa organização, mas na comunidade que se beneficiará delas. Temos de testar o maior número possível de soluções, inclusive as menores e menos ambiciosas”, completou.
A etapa decisiva do Creatathon, na qual espera-se que os debates resultem em produtos e serviços economicamente viáveis, deverá ser em setembro. Até lá, serão realizados três workshops sobre noções de empreendedorismo, modelagem de negócios e de “ideação”, o processo de seleção e priorização de ideias. “Esperamos que os grupos formados possam amadurecer até setembro e maturar suas propostas originais”, afirmou Vinícius Feitosa, assistente de Proteção do ACNUR.
Por Denise Chrispim, de São Paulo.