Tamanho do texto A A A

Sudão do Sul: ACNUR resgata refugiado preso na agitação civil

Não muitas pessoas estariam felizes por pousar em Juba nos dias de hoje, com suas ruas encrespadas com tanques, soldados e metralhadoras na parte traseira de pick-up militares.

JUBA, Sudão do Sul, 09 de janeiro (ACNUR) - Não muitas pessoas estariam felizes por pousar em Juba nos dias de hoje, com suas ruas encrespadas com tanques, soldados e metralhadoras na parte traseira de pick-up militares.

Mas o alívio está escrito no rosto de Yousif, um refugiado da região de Darfur, no Sudão, quando ele pousa de um vôo da ONU no aeroporto de Juba. A tensão visivelmente flui no momento em que ele aperta a mão de uma jovem oficial de proteção da ACNUR, que o resgatou da instável cidade de Bentiu, onde ele foi preso nos combates por mais de duas semanas. “É ótimo finalmente estar aqui”, diz ele. “Estou feliz por estar vivo”.

Yousif , um refugiado registrado na Uganda, foi para Bentiu em novembro para confortar sua irmã, cujo marido e dois filhos morreram em um acidente de trânsito. Ele teve a má sorte de ainda estar lá, um mês depois, em meados de dezembro, quando o Sudão do Sul precipitou na violência política e inter-étnica.

As tropas do governo perderam o controle da zona rica de petróleo de Bentiu, capital do estado de Unity, por parte das forças de oposição em meados de dezembro, mas esperam reconquistá-la em breve. Durante a batalha pelo controle da cidade, Yousif, um advogado, se lembra de uma noite de terror que passou encolhido debaixo de uma cama na casa de um comerciante ligado a um amigo seu de Darfur, na Uganda. Das oito até às quatro, disse ele, choveram tiros sobre as casas dos comerciantes, que eram alvos especiais por causa de seus bens e dinheiro.

Quando ele, seus amigos e parentes saíram de manhã, o único pensamento deles eram superar os corpos no caminho para alcançar a segurança dentro da base das forças de manutenção da paz da ONU, a UNMISS (Missão da ONU no Sudão do Sul).

Uma vez dentro do complexo da ONU, Yousif disse que ele e seu amigo, Nagmadeen, ficaram aterrorizados com a ideia de sair. “O tempo todo eu estava lá dentro, eu nunca sequer me atrevi a me aproximar do portão, assim eu nunca poderia imaginar que eu iria ir para Juba ou Kampala”, diz Yousif . “Eu pensei que eu iria morrer ali”.

Mas o resgate estava esperando na forma de uma consultora das Nações Unidas para a proteção de civis, Kirsten Young. Depois de quatro ou cinco dias no complexo de Bentiu, Yousif e Nagmadeen notaram Young identificando cidadãos do Quênia, da Etiópia e de Uganda e outros estrangeiros para serem reunidos para a evacuação, e se aproximaram dela.

“Eu disse a ela que eu também era de Uganda, mas um refugiado de Darfur e eu queria voltar para Uganda”, disse Yousif em Inglês muito preciso. “Sou muito grato a ela. Tudo graças a Kirsten. Sempre vou elogiá-la. Ela salvou minha vida”.

Young contatou a ACNUR em Juba, e Kasia Kot-Majewska, uma oficial de proteção, cuja função é assegurar que os direitos legais dos refugiados sejam respeitados, conseguiu verificar a história dentro de uma questão de horas. “Sabíamos que a sua vida estava em perigo”, disse ela.

Mas, por vários dias, os dois homens tiveram uma espera de roer as unhas para conseguirem um assento em um voo da ONU que saía de Bentiu. Quando eles finalmente deixaram o complexo da ONU, eles estavam convencidos de que não iriam mesmo sobreviver por sequer uma unidade de quatro quilômetros fora do aeroporto, tal é o nível de medo no Sudão do Sul. No aeroporto, as tropas da ONU os blindaram até entrarem no avião.

Yousif diz que seu terror está enraizado no que ele experimentou em Darfur, região ocidental devastada pela guerra do Sudão. “Eu perdi tanto na minha vida. Perdi meus irmãos e irmãs”, diz ele. Ele até teve que deixar sua esposa grávida em um acampamento para pessoas deslocadas em Darfur e nunca chegou a ver sua única filha, nascida logo depois que ele fugiu para a Uganda em 2011. Sua esposa colocou o nome da filha de Walaa, que significa “lealdade” em árabe.

Para Kot-Majewska, que trabalhava como oficial humanitária no Ministério das Relações Exteriores da Polônia, antes de ser enviada para Juba com o ACNUR, ajudar a refugiados como Yousif e Nagmadeen é a razão pela qual ela se juntou a agência de refugiados. “Eu sempre quis trabalhar com os refugiados”, diz ela. “Você se sente como se você estivesse fazendo o melhor trabalho do mundo.”

Quando os dois refugiados finalmente desembarcaram em Juba, ela disse: “Eu estava tão feliz. Não é em todos os trabalhos que você pode ouvir ‘muito obrigado’”.

Young, que iniciou a sua recuperação, também encontrou um alto ganho. “Nas últimas duas semanas”, disse ela, a nossa equipe conseguiu facilitar a evacuação de quase 2.000 pessoas. É muito gratificante ver as pessoas pegando os voos, e realmente ser capaz de ajudar as pessoas como estamos destinados”.

Para Yousif e Nagmadeen, a viagem ainda não está terminada, mas eles estão confiantes de que podem fazer o seu próprio caminho de volta para Kampala, onde ambos estão estudando Inglês para que possam atualizar suas qualificações profissionais.

“Quando eu estava crescendo, eu nunca imaginei que eu iria encontrar coisas como esta”, disse Yousif. “Mas eu acho que esse é o meu destino. Só agora eu estou sozinho, sem minha família, sem uma mãe ou um pai, mesmo sem a minha esposa. Espero que a paz venha para Darfur, para que possamos voltar para nossas casas”.

Por Kitty McKinsey em Juba, Sudão do Sul.

Obrigado à Voluntária On-Line Marcela Magalhães pela ajuda prestada com a tradução do inglês deste texto.