Participação histórica de atletas refugiados nas Paralimpíadas leva esperança a milhões de pessoas
Rio de Janeiro, 21 de setembro de 2016 (ACNUR) - Em agosto de 2016, o mundo vibrou e se emocionou com a participação de 10 atletas refugiados nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Para além de seus dramas pessoais, eles levantaram a bandeira da proteção às vítimas de guerras e perseguições em todos os países e inspiraram muitos deles a perseverar em seus sonhos, mesmo em momentos de dificuldade.
Em setembro, as doses de coragem, orgulho e esperança se renovaram com intensidade ainda maior, quando outros dois atletas refugiados provaram que nem mesmo uma deficiência física deve ser obstáculo para a realização de grandes feitos.
Integrantes do inédito Time de Atletas Paralímpicos Independentes, o sírio Ibrahim Al-Hussein e o iraniano Shahrad Nasajpour marcaram seus nomes na história do esporte e relembraram ao mundo que todo refugiado tem um talento a ser admirado.
"Participar das Paralimpíadas foi uma experiência linda e transformadora. Assim como 2012 e 2013 foram os piores anos da minha vida, 2016 foi o melhor de todos", disse o nadador Ibrahim, recordando a perda de parte da perna direita em uma explosão há quatro anos e a posterior volta por cima.
Em abril deste ano, ele ficou conhecido mundialmente ao participar do revezamento da Tocha Olímpica na Grécia, onde solicitou refúgio após ter superado uma travessia de bote a partir da Turquia. Alguns meses depois, Ibrahim foi convocado a integrar o Time de Atletas Paralímpicos Independentes, realizando o sonho de competir no mais alto nível.
No Rio de Janeiro, o nadador abriu o desfile de atletas como porta-bandeira da sua delegação na cerimônia de abertura, sendo ovacionado por cerca de 70 mil pessoas no mítico Estádio do Maracanã. Classificado na categoria S9, Ibrahim nadou as provas dos 50m e 100m livre e, embora não tenha avançado às finais, registrou as melhores marcas da sua carreira, com 35s54 e 1m20s98 respectivamente.
"Há centenas de milhares de pessoas amputadas pelas guerras no mundo todo, e as Paralimpíadas encorajam-nas e motivam-nas a retomar uma vida normal e praticar esportes", comentou o sírio durante a Rio 2016. "Eu gostaria de mandar uma mensagem a todas as pessoas que têm alguma deficiência, inclusive os refugiados. Não se deixe abater pela deficiência, você é capaz de fazer qualquer coisa que a sua mente queira fazer."
Exemplo para os refugiados e para os deficientes, Ibrahim foi reconhecido também como um exemplo para todos os atletas paralímpicos. Fechando sua participação na Rio 2016 de forma apoteótica, ele foi ovacionado pelo Maracanã na cerimônia de encerramento dos Jogos, ao receber o prêmio Whang Youn Dai, concedido pelo Comitê Paralímpico Internacional e que condecora o atleta símbolo dos valores paralímpicos: coragem, determinação, inspiração e igualdade.
"Este prêmio motivará todos os atletas e todos os refugiados do mundo", comentou o nadador. "Eu era um atleta e então fui transformado em um atleta com deficiência, mas consegui fazer essa transição de forma exitosa, cheguei às Paralimpíadas e ainda ganhei este prêmio."
Já o iraniano Shahrad Nasajpour, que teve seu pedido de refúgio reconhecido nos Estados Unidos, mas preferiu não compartilhar sua história por motivos pessoais, competiu no arremesso de discos na classe F37, para atletas com paralisia cerebral. Ele também superou sua melhor marca pessoal, arremessando a 39,64 metros e terminando na 11ª´posição.
"Tudo foi como um sonho. Participar dos Jogos Paralímpicos é a maior conquista para todo atleta", disse Shahrad em coletiva de imprensa.
Para um refugiado, portanto, é uma façanha ainda maior. Ibrahim e Shahrad tiveram seus caminhos atravessados por guerras e perseguições, mas lutaram pela vida, recuperaram as forças e voltaram a fazer o que fazem de melhor, levando uma mensagem de esperança aos mais de 60 milhões de pessoas que foram forçados a deixar suas casas em todo o mundo.
"Acredito que minha participação nas Paralimpíadas ajudará não apenas os refugiados na Europa, mas também aqueles que estão no Brasil, na América Latina e no resto do mundo", afirmou Ibrahim. "Eles estão vivendo em condições terríveis. Espero que a minha presença aqui ajude a mudar isso a partir de agora. Ter representado os refugiados do mundo e ter feito a palavra 'refugiados' circular na mídia foi o legado mais importante que deixei."
Por Diogo Félix, do Rio de Janeiro.