Já passa de 1 milhão o número de refugiados forçados a deixar do Sudão do Sul
GENEBRA, 16 de setembro de 2016 (ACNUR) - Nesta semana, o número de refugiados sul-sudaneses que buscam refúgio em países vizinhos ultrapassou a marca de 1 milhão de pessoas, incluindo as mais de 185.000 pessoas que foram forçadas a fugir desde que os atos de violência eclodiram na capital Juba, em 8 de julho, confirmou hoje a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).
Com este expressivo número, o Sudão do Sul se junta à Síria, Afeganistão e Somália como países que geraram mais de um milhão de refugiados, disse o porta voz do ACNUR, Leo Dobbs, em uma coletiva de imprensa realizada hoje, em Genebra.
“A maioria dos que estão fugindo do Sudão do Sul são mulheres e crianças. Entre eles, estão sobreviventes de ataques violentos, abusos sexuais, crianças que foram separadas de seus pais ou que viajaram sozinhas, pessoas com deficiência, idosos e pessoas com necessidade de cuidados médicos urgentes”, disse Dobbs.
“Muitos refugiados chegam exaustos depois de caminhar por dias pela mata, sem água ou comida.”
Ele observou que mais de três quartos das pessoas, cerca de 143.164, entraram recentemente em Uganda. Mas na última semana, um crescente número de pessoas atravessou outra fronteira, por Gambela, região ocidental da Etiópia. Outras pessoas foram em direção ao Quênia, República Democrática do Congo e República Centro-Africana.
“Esses países, em uma atitude louvável, mantiveram suas portas abertas para os novos entrantes”, disse Dobbs aos repórteres no Palácio das Nações.
Os atos de violência ocorridos em julho criaram um grande obstáculo para os esforços de paz no Sudão do Sul. Naquele momento, o jovem país se preparava para comemorar seu quinto aniversário em meio a um recente acordo de paz estabelecido entre os apoiadores do Presidente Salva Kiir e do antigo vice-presidente, Riek Machar.
“Os combates comprometeram os progressos alcançados e estimularam novas ondas de deslocamento e sofrimento. Organizações humanitárias estão tendo grande dificuldade, por motivos de logística, segurança e recursos, de oferecer proteção e assistência de emergência para centenas de milhares de pessoas, incluindo 1,61 milhão de deslocados internos”, disse Dobbs.
Uganda abriga a maior parte dos refugiados sul-sudaneses. São cerca de 373.626, sendo que mais da metade chegou desde o início de julho, e mais pessoas continuam chegando. Apenas na última semana, mais de 20.000 novas entradas foram registradas. Pessoas recém-chegadas relataram o aumento de combates em toda a região da Grande Equatoria e de ataques por grupos armados que matam civis, saqueiam aldeias, abusam sexualmente mulheres e meninas e recrutam meninos e jovens.
“Muitos refugiados chegam exaustos depois de caminhar por dias pela mata, sem água ou comida. Muitas crianças perderam seus pais, sendo que algumas delas foram forçadas a se tornar cuidadoras de seus irmãos mais novos”, relatou Dobbs.
Um grupo massivo de cerca de 11.000 pessoas, a maioria vinda da tribo de Nuer, atravessou a fronteira para Gambela na última semana, fazendo com que o número de refugiados sul-sudaneses no país atingisse a marca de 292.000. A maioria são mulheres e crianças, sendo que destas, 500 viajavam desacompanhadas.
A maioria fugiu de Nasser, Maban, Mathiang e Maiwut, região do Alto Nilo, por temerem a insegurança causada pelos novos conflitos após presenciarem movimentos das tropas. Pessoas recém-chegadas de Jonglei relataram a escassez de alimentos como a razão para fuga.
Países vizinhos ao Sudão abrigam o terceiro maior número de refugiados sul-sudaneses, cerca de 247.317, e mais pessoas continuam chegando em Darfur e nos Estados do Nilo Branco. Estas pessoas relatam o aumento de tumultos e escassez de alimentos, especialmente nos Estados de Bahr El Ghazal e Warrap, como principais motivos de fuga.
“Muitas crianças perderam seus pais, algumas delas foram forçadas a se tornar os cuidadoras de seus irmãos mais novos.”
Grupos menores têm fugido para o Quênia, República Democrática do Congo e República Centro-Africana desde que os conflitos recomeçaram. Cerca de 300 pessoas por semana têm cruzado a fronteira para o Quênia, relatando insegurança, instabilidade econômica e falta de água. A rota de fuga entre Torit e Kapoeta continua sendo perigosa devido à presença de bandidos armados. O Quênia abriga hoje mais de 90.000 refugiados sul-sudaneses.
A República Democrática do Congo tem testemunhado um grande fluxo para a província de Ituri, próximo à fronteira entre o Sudão do Sul e Uganda. Estima-se que 40.000 refugiados sul-sudaneses estejam no país.
A equipe do ACNUR em campo relata que os recém-chegados estão acampados em escolas e igrejas, enquanto outras pessoas dormem ao relento. Refugiados enfrentam falta de alimentos e de utensílios domésticos básicos.
Estima-se que 5% das crianças estejam desacompanhadas, e muitas meninas e mulheres disseram ter sofrido abusos sexuais durante a fuga. No início deste mês, refugiados que estavam próximos à cidade de Doruma (na província de Haut-Uele) sofreram ataques, tiveram seus estoques de comida roubados e um centro de saúde foi saqueado por pessoas não identificadas.
A insegurança na região central do Sudão do Sul também afetou de forma significativa a capacidade do ACNUR de ter acesso e prestar assistência a milhares de refugiados que vivem no país. No assentamento de Lasu, localizado à 40 quilômetros ao sul de Yei, cerca de 10.000 refugiados da República Democrática do Congo, da República Centro-Africana e do Sudão não receberam suas quotas mensais de alimento desde o final de junho.
Sem receber fundos e apoio suficientes, o ACNUR e seus parceiros enfrentam dificuldades para ajudar as pessoas que necessitam, até mesmo com os itens mais básicos de assistência. O ACNUR está pedindo aos doadores para fornecer U$ 701 milhões para as operações de refugiados no Sul do Sudão, dos quais apenas 20% foram financiados até o momento.