As mulheres refugiadas consultadas no Diagnóstico Participativo Panamá-2010 disseram se sentir estigmatizadas devido à sua nacionalidade e sexo, que acabam sendo fatores de dupla discriminação para elas. Destaca-se a situação das mulheres chefes de família, que possuem sozinhas a responsabilidade de cuidar de seus filhos. Elas disseram não contar com redes de apoio formais ou serviços que facilitem o cumprimento de suas tarefas no ambiente público ou privado. No Panamá há 487 mulheres reconhecidas como refugiadas. Este número é maior quando são consideras a população que conta com proteção humanitária temporária e os solicitantes de proteção internacional.
Histórias de mulheres refugiadas
Mulheres refugiadas no Panamá ainda se sentem estigmatizadas
Refugiadas refazem sua vida no México
A atual população refugiada no México é bastante diversificada em relação às suas origens. Somente em 2010, foram reconhecidas como refugiadas pessoas provenientes de 28 países, a maioria vinda de países da região (El Salvador, Guatemala, Honduras, Colômbia) e de outros continentes, como Oriente Médio, Ásia e África.
Na fuga, algumas mulheres viajam sozinhas. Outras, acompanhadas por seus parceiros ou maridos, percorrem perigosos caminhos utilizados tradicionalmente nas rotas migratórias, a través das quais tem se dado a chegada de pessoas refugiadas ao México. Outras mulheres refugiadas chegaram ao México por meio de programas de reunião familiar, depois que seus maridos ou pais vieram ao México e obtiveram a condição de refugiados. Isso é explicado em grande parte devido aos riscos e perigos que enfrentam os solicitantes de refúgio e refugiados ao cruzar as fronteiras e percorrer grandes distâncias.
Quando chegam ao México, as mulheres e os homens refugiados se instalam nos centros urbanos, principalmente na capital do país e nos seus arredores. Algumas delas montam seus próprios negócios, como é o caso de uma colombiana que tem seu próprio centro de estética, outras são profissionais, como uma kosovar que é dentista. Outras mulheres têm barracas em mercados, como no de Lagunilla, ou se organizam para a criação de bancos comunitários destinados a mulheres.
Equador promove espaços de “Convivência Solidária”
Muitas mulheres equatorianas e refugiadas vivem em condições extremamente difíceis, em especial as que são chefes de família. Inclusive porque são elas as que sofrem maior discriminação social. O ACNUR envia uma mensagem a favor de uma convivência harmônica dos diferentes grupos sociais que vivem no Equador e busca a promoção de espaços de “Convivência Solidária”.
Na fronteira entre o Equador e a Colômbia, na província amazônica de Sucumbíos (Equador), as mulheres são mães, camponesas, donas de casa, criam galinhas, lavam roupa, de sol a sol. Algumas equatorianas, outras refugiadas procedentes da Colômbia, elas têm esperança de seguir em frente. Muitas delas cruzaram as fronteiras sozinhas, após terem seus maridos assassinados ou desaparecidos. Outras encontram seus parceiros do outro lado do rio. Todas devem superar diariamente, em suas comunidades isoladas às margens dos rios Putumayo e San Miguel, as dificuldades causadas pela falta de serviços básicos. Entretanto, elas não se rendem e lutam. Essas são as vozes de algumas delas.
Chocó: Trabalhar mais pelas mulheres e meninas deslocadas
Liliana Lozano, assistente de proteção do ACNUR em Quibdó (Chocó), afirma ter aprendido muitas coisas com as mulheres deslocadas que teve oportunidade de conhecer. Destaca a persistência delas em proteger suas famílias, mesmo sofrendo humilhações para poder dar a seus filhos um pouco de segurança.
Liliana começou a trabalhar no ACNUR como estagiária no ano de 2008, na cidade de Villavicencio (Meta). Um ano e meio depois, ela foi nomeada assistente de proteção do ACNUR em Quibdó, lugar que lhe mostrou a difícil realidade das mulheres da região. Ela destaca, entre todos os obstáculos vividos pelas deslocadas, “a realidade das meninas e jovens, que continuam em uma cadeia interminável de miséria e que, provavelmente, não terão um futuro melhor se não continuarmos fazendo algo por elas”.
De acordo com dados oficiais, somente no departamento de Chocó 103 mil mulheres foram deslocadas em virtude da violência desde 1998. Por isso, Liliana conhece centenas de histórias, e entre elas a mais memorável foi a de uma senhora de Vigía de Fuerte, que foi sequestrada e constantemente violentada pelo chefe do um grupo armado ilegal que a mantinha em cativeiro.
“Estar próxima a essas histórias me traz a obrigação moral de fazer meu trabalho o melhor possível, pois sei que é único meio que possuo para diminuir o sofrimento delas”, afirma Liliana.
Arauca: reduzir a vulnerabilidade e a violência
María Lorena Suárez trabalha no ACNUR em Arauca há pouco mais de um ano, e afirma que desde o início tem sido difícil compreender como, “com o alto nível de desenvolvimento legal e constitucional para a proteção dos deslocados na Colômbia, as mulheres sejam tão vulneráveis em todos os aspectos e em todo momento”.
As autoridades registraram numerosos casos de violência contra as mulheres deslocadas por parte dos atores armados em Arauca. Frente a isso, María Lorena afirmar que o maior desafio de seu trabalho tem sido lutar contra a indiferença das instituições em todos os níveis em relação à violência estrutural contra a mulher.
“É também muito difícil observar o pouco reconhecimento da mulher em todos os aspectos, mas mais pontualmente sua falta de reconhecimento como líderes”, conta. Entretanto, afirma que admira profundamente a integridade e força das mulheres deslocadas, assim como “a capacidade de superar qualquer obstáculo e/ou violação de seus direitos e de sua vida para proteger sua família, e para seguir lutando para que não aconteça o mesmo com outras mulheres”.
Liliana Lozano, asistente de proteção do ACNUR em Quibdó.
Foram muitos anos vivendo a realidade das mulheres em Magdalena Medio, uma zona tradicionalmente afetada pelo conflito armado. “São inúmeros os sentimentos vividos com elas: dor, tristeza, raiva, impotência, alegria, admiração e respeito pela coragem, pela capacidade de se levantar em meio a dificuldades, de ser resiliente e de reconstruir novos laços familiares em meio a suas dores, e aprender que coletivamente é possível alcançar os sonhos”, diz.
A pesar disso, Marlene, afirma que são muitos os problemas que ainda afligem as mulheres deslocadas na região. “Elas não têm acesso a uma consulta médica, a um pedaço de terra, a oportunidades de trabalho em condições dignas, a uma habitação saudável, à possibilidade de liderar organizações para reivindicar seus direitos...”.
María Lorena Suárez, ACNUR Arauca.
Magdalena Medio: Melhorar as condições de vida de mulheres deslocadas
São dezenas de nomes que Marlene Mesa, asistente de programa do ACNUR em Barrancabermeja, leva em sua memoria após sete anos de trabalho com a agência na região.
“Fiquei impactada com Omaira, uma mulher que conheci em uma associação, que foi assassinada e apareceu camuflada como combatente de um grupo armado ilegal. Dias depois, seu filho de 11 anos veio ao escritório pedir ajuda para ir à Barrancabermeja trazer o corpo de sua mãe. Lembro-me também de Candelaria, cujo vizinho abusou de sua filha; de Claudia, que participou da passeata em combate à violência contra a mulher com uma ferida em sua cabeça porque seu parceiro lhe bateu; e de Dona Luz Irma, em Cerro Azul, a única capaz de negociar com os atores armados para que respeitassem a escola”, explica a funcionária.
Marlene trabalha diretamente com o escritório do ACNUR em Barrancabermeja há um ano, mas entre 2004 e 2009 foi consultora do projeto de fortalecimento institucional e comunitário en Catagallo, San Pablo, Simitrí e Santa Rosa del Sur (Bolívar), no marco do convênio ACNUR – Corporação para o Desenvolvimento e Paz de Magdalena Medio.
As mulheres deslocadas na voz das funcionárias do ACNUR Colômbia
De acordo com o governo colombiano, mais de um milhão e meio de mulheres se viram forçadas a fugir de suas casas durante a última década de violência na Colômbia. Na grande maioria dos casos, elas fogem especificamente da violência sexual por parte de grupos armados ilegais contra elas.
Após o deslocamento, quase na metade dos casos, as mulheres se convertem em chefes de família por serem as primeiras a encontrar emprego e porque muitos homens abandonam seus lares. A dificuldade para encontrar empregos estáveis, o difícil acesso a serviços básicos e o contínuo risco de violência sexual e de gênero são alguns dos obstáculos que enfrentam. Segundo o último informe do Comitê de Acompanhamento de Políticas Públicas para o Deslocamento Forçado, ao menos 45% das famílias deslocadas são chefiadas por mulheres, sendo que cada chefe de família responde, em média, por 4,6 pessoas.
Mesmo frente a um cenário desfavorável, é evidente que as mulheres deslocadas são capazes de gerar mudanças substantivas no seio de suas famílias e comunidades. Por isso, para o ACNUR as mulheres merecem atenção especial, e as apóia através de programas que promovem o empoderamento social e o direito de igualdade, além de eliminar e prevenir a violência contra elas.
Compartilhamos, aqui, uma série de testemunhos de funcionárias do ACNUR, trabalhadoras humanitárias que todos os dias lidam com as histórias de dor e esperança das vítimas do conflito colombiano.
Chile: Uma história de esforço e perseverança
Olga Pabón é colombiana, tem 30 anos e veio ao Chile em busca de refúgio em 2002. Depois de uma longa viagem por terra, chegou com sua família e seus dois filhos: uma menina de 2 anos e um menino recém nascido. No Chile, deu a luz a seu terceiro filho. Hoje, após ter se separado, vive apenas com os três.
A força e o estímulo são características que sobresaem em Olga. Ela tem passado por um intenso processo de integração no qual tem se desenvolvido e descoberto novos recursos e potencialidades, tanto na vida pessoal como na profissional. Neste processo, ela tem recebido apoio do Vicariato da Pastoral Social e dos Trabalhadores, organizaćão parceira do ACNUR, através de seus programas dirigidos a refugiados e em especial a mulheres refugiadas.
Atualmente, Olga dedica-se à criação de seus três filhos e ao trabalho com publicidade de impressos, negócio ao qual tem se dedicado com o apoio do Vicariato, que tem lhe dado recursos para comprar ferramentas básicas, como computador, filmadora, além de inscrevê-la em um curso de design gráfico. Em seu trabalho, ela tem se destacado pelo empenho e profissionalismo. Com o intuito de aumentar a renda de sua família, ela também trabalha como assistente em um transporte escolar.
Olga não pára e sempre está procurando novas oportunidades de crescer. “No Chile, aprendi a me valorizar, a ser mais segura de mim. Sei que sou capaz de prosperar, e ter conhecido outras mulheres refugiadas nos programas do Vicariato me ajudou a me relacionar com pessoas que passaram por experiências similares e a sentir que não estou sozinha”.
Carine, Congo
Carine vivia em Brazzaville, onde estava casada com um jornalista ativista de direitos humanos que investigava a indústria de extração ilegal de diamantes. Quando seu marido desapareceu, ela sentiu que não voltaria a vê-lo. Tentou de várias formas encontrá-lo, no entanto, rapidamente começou a receber ameaças de que teria o mesmo fim de seu marido.
Aos 24 anos e com uma filha recém-nascida, Carine entrou em um avião que a deixaria horas depois no aeroporto internacional de São Paulo, Brasil. Há quase dois anos ela vive no Brasil como refugiada e, apesar de ainda não se sentir totalmente integrada, está certa de que não quer voltar para seu país de origem.
Lilia, Colômbia
Lilia foi líder comunitária desde os 14 anos, quando ainda vivia em um pequeno município distante 400 km de Bogotá. Por influência familiar, desde muito cedo se envolveu com questões como reforma agrária e direitos humanos em seu país. Tinha alcançado o posto de líder nacional da reforma agrária quando começou a receber ameaças por ambos os lados do conflito. Com o marido, também líder comunitário, preso na Bolívia, Lilia ficou sozinha com os quatro filhos, tendo que lidar com ameaças diárias a ela e sua família.
Com o apoio de amigos, decidiu deixar a Colômbia, inicialmente apenas com os dois filhos mais novos.Viveu em várias cidades brasileiras, até encontrar seu lugar em uma cidade próxima à capital federal. Com uma enorme capacidade e vontade de começar de novo, Lilia abriu, por um tempo, um salão de beleza no qual trabalhava com suas filhas e depois de um tempo abriu uma empresa de materiais elétricos.
Mesmo tendo um mau presságio quando chegou ao Brasil há cinco anos, hoje, Lilia se diz feliz e satisfeita com a vida que leva com seu novo companheiro, seus filhos e netos no país.
Brasil abre suas portas às mulheres refugiadas - Marta, Colômbia
Através do Programa de Reassentamento Solidário, Marta chegou ao Brasil em dezembro de 2009 com sua filha mais nova e seu marido equatoriano. A família deixou a Colômbia devido à perseguição de grupos armados irregulares e quando já havia se estabelecido em seu primeiro país de refúgio, Equador, foi descoberta pelos guerrilheiros, tendo que ser reassentada em outro país por questões de segurança.
Desde então, vive no interior do Brasil, onde luta para se integrar e reconstruir sua vida e a de sua família. Devido a sua força de vontade, mesmo sem falar português, a refugiada colombiana conseguiu matricular sua filha de dois anos em uma escola do município, facilitando o processo de integração da pequena Oriana na sociedade local e ganhando tempo livre para investir em suas atividades de geração de renda.
Marta sonha em ser enfermeira. “A vantagem de poder deixar minha filha na escola em que confio, é ter parte do meu dia livre para me dedicar aos estudos e outros projetos”.
Argentina: "Tem que ser forte e seguir em frente"
Na Argentina vivem cerca de 4 mil refugiados e refugiadas de mais de 70 países, a maioria delas provêm de países latino-americanos. 34% são mulheres. My Kelange é uma delas. Fugiu da perseguição que sofria no Haiti para vir à Argentina, sabendo que seu irmão tinha encontrado refúgio neste país. No Haiti vivia com sua mãe e irmãs e trabalhava como auxiliar de enfermagem em um hospital. Era ativista de um partido político, que mais tarde lhe custou uma séria de ameaças. Sentiu muito medo e se escondeu na casa de amigos, até conseguir ir embora do país porque não se sentia mais segura.
Como foi sua chegada na Argentina? Conhecia alguma coisa sobre o país?
Meu irmão chegou primeiro e me aconselhou a vir. Cheguei em uma época de muito frio. Não sabia nada, apenas três palavras: “por favor”, “gracias” e “buen día”. Em seguida, quis aprender o idioma para poder trabalhar o quanto antes. Em seis meses já podia me virar com o idioma e saía na rua para vender coisas. É difícil trabalhar na rua, mas é o que tenho por hora. Busquei trabalho, mas não encontrei. Tenho que ajudar minha família, isso é prioridade. Gosto de trabalhar.
E o que você gostaria de fazer ao invés de trabalhar como ambulante na rua?
Gostaria de fazer o que eu gosto, estudar para trabalhar em um laboratório. Também gosto do trabalho como enfermeira. Mas é muito difícil trabalhar e estudar.
Como os argentinos te tratam?
Quando tinha acabado de chegar, não gostava de falar muito. Como não sabia falar espanhol, às vezes, os homens me diziam e ensinuavam coisas e eu me sentia incomodada. Não estava acostumada a isso. Agora está tudo bem. Me sinto à vontade. Vivo tranquila, o que é o melhor. É necessário se colocar no lugar das pessoas, e eu gosto muito de falar com os outros. As pessoas me ajudam a me comunicar.
O que você mais gosta na Argentina?
O povo. Gosto de como falam e como eles mantêm contato. Adoro a comida, e, especialmente, o sorvete!
Você voltaria ao Haiti algum dia?
Não quero voltar ao Haiti. Ficarei aqui para sempre.
O que você diria às mulheres refugiadas que como você chegam ao país sem nada?
Tem que ser forte, trabalhar. Estou orgulhosa de mim. Chorei muito quando cheguei, mas tive força e segui em frente.