Tamanho do texto A A A

ACNUR intensifica seu planejamento com a proximidade da retomada de Mossul

Pelo menos 700.000 residentes da segunda maior cidade do Iraque e áreas adjacentes precisarão de assistência urgente em forma de alimentos, abrigo, água e apoio médico.

GENEBRA, 30 de setembro de 2016 (ACNUR) - A já esperada ofensiva militar iraquiana para retomar Mossul pode produzir uma das maiores crises de deslocamento causadas pelo homem dos últimos tempos, alertou o Representante da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) no Iraque, Breno Geddo.

A cada minuto que se passa, o ACNUR tem trabalhado intensivamente com seus parceiros para garantir que a comunidade humanitária esteja preparada para o afluxo humano esperado, disse Geddo em uma coletiva de imprensa realizada na última quinta-feira (29).

Agências humanitárias preveem que mais de um milhão de pessoas podem ser forçadas a se deslocar devido à ofensiva das forças do governo iraquiano para retomar a segunda maior cidade do país. Elas imaginam que pelo menos 700.000 pessoas precisarão de assistência emergencial em forma de abrigo, comida, água e apoio médico.

 “Os desafios não poderiam ser maiores”, disse Geddo à imprensa no Palácio das Nações.

Desde 2014, aproximadamente 1 a cada 10 iraquianos foi deslocado devido a conflitos. Desde março deste ano, cerca de 61.900 pessoas foram forçadas a deixar Mossul e áreas adjacentes, sendo que de junho em diante mais 100.500 pessoas foram deslocadas de Shirgat, Al Qayyarah e proximidades.

Em junho, o governo iraquiano declarou que havia retomado o controle de Falluja, antes dominado por extremistas, mas que o custo humano foi alto e que a comunidade internacional foi criticada por ter falhado ao antecipar o nível de deslocamento e sofrimento.

“A primeira lição da crise de Falluja é que receber ajuda financeira depois que a crise já foi exibida na televisão pode ser tarde demais”.

“Nós aprendemos várias lições com a crise de Falluja em junho”, acrescentou Geddo. “A primeira lição é que receber ajuda financeira depois que a crise já foi exibida na televisão pode ser tarde demais”.

Desta vez, a estratégia do ACNUR tem sido expandir e construir novos campos nos arredores e disponibilizar suprimentos de emergência e kits de abrigo para tentar dar assistência ao afluxo esperado no momento que os conflitos eclodirem.

Geddo disse que campos estão sendo preparados em locais mais seguros, em quatro diferentes divisões administrativas ao redor de Mossul. Desses, onze já estão planejados ou concluídos.  Ao todo, os campos poderiam acomodar cerca de 20.000 famílias ou cerca de 120.000 pessoas. Outras 150.000 pessoas poderiam ser acomodadas nos campos oferecidos pelo governo. Para oferecer assistência em curto prazo, o ACNUR está posicionando tendas próximas aos centros de operação.

Espera-se que as pessoas nestas áreas possam ser realocadas assim que suas cidades voltarem a estar em segurança. 

Ainda assim, Geddo alertou que existem restrições relacionadas à construção de campos que incluem a falta de terrenos apropriados, que muitas vezes são difíceis de alugar, ou estão contaminados, não têm uma topografia adequada ou estão muito próximos às áreas de combate. Ele também explicou que trazer pessoas deslocadas de Mossul para acampamentos temporários aumenta o risco de tensões étnicas e religiosas. “A outra restrição é correr contra o tempo”. Relatórios sugerem que a ofensiva pode acontecer já no início de outubro.

“Sabemos que o momento está chegando, que os doadores estão de acordo e que estão financiando o nosso planejamento – embora os recursos não serão suficientes para suprir todas as necessidades”, acrescentou Geddo. “O valor previsto para a resposta de emergência em Mossul era de 196 milhões de dólares, mas só temos 33% deste valor”.

“O Iraque tem passado por guerras intermitentes desde 1975 – a comunidade internacional não deve se sucumbir pela fadiga”.

Na semana passada, o ACNUR publicou uma nota sobre o deslocamento forçado de famílias e crianças desacompanhadas, movimento que já está acontecendo nos arredores de Mossul. Além dos campos criados, o ACNUR adquiriu 38.000 tendas. Um total de 50.000 kits emergenciais de abrigo serão utilizados para construir estruturas mais básicas em campos de emergência ou centros coletivos e 30.000 kits de isolamento foram adquiridos para serem usados em prédios inacabados ou danificados.

Além disso, foram disponibilizados 100.000 kits de primeiros socorros que incluem cobertores, colchões, galões de água e utensílios de cozinha. Se os recursos forem suficientes, o ACNUR planeja adquirir kits de assistência para o inverno para 138.000 famílias, incluindo cobertores, colchões, aquecedores, lonas de plástico e kits de isolamento térmico.

Com receio de que civis possam ser usados como escudos pelos extremistas, Geddo diz que o ACNUR tem solicitado com veemência permissão para que a população civil tenha acesso a áreas seguras e de acesso facilitado.

“O Iraque tem passado por guerras intermitentes desde 1975, o povo iraquiano está profundamente traumatizado. Essa mais recente guerra – 2016-2017 – poderá, com sorte, permitir que o país dê uma guinada. A comunidade internacional não deve sucumbir pela fadiga”, afirmou o Representante do ACNUR.