Tamanho do texto A A A

Com recuo do Boko Haram, ACNUR se preocupa com os nigerianos que retornam às suas cidades de origem

Após recente liberação, milhares de pessoas que se deslocaram internamente agora estão regressando para suas vilas e cidades devastadas ao noroeste da Nigéria.

Genebra, 26 de setembro de 2016 (ACNUR) – Centenas de deslocados internos estão retornando para as vilas e cidades devastadas que foram recentemente libertadas do Boko Haram, no Estado de Borno, nordeste da Nigéria. Esse fluxo de pessoas eleva as preocupações da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), relacionadas às condições de vida, serviços básicos e segurança desta população.

A ação das forças do governo nigeriano, em cooperação com a Força Multi-Nacional, conteve os avanços dos militantes, cuja insurgência desabrigou mais de dois milhões pessoas desde 2014 na Nigéria.

Centenas de milhares de pessoas do Estado de Borno necessitam de ajuda urgentemente, afirmou o porta-voz do ACNUR, Leo Dobbs, em uma coletiva de imprensa realizada em Genebra. Dobbs destacou que o número de pessoas que retornam às áreas libertadas tende a aumentar nas próximas semanas.

“Dados completos não estão disponíveis, mas nossa equipe de campo e parceiros relatam o retorno espontâneo e também facilitado pelo Governo nos últimos dias de centenas de pessoas para áreas como Mafa, Konduga, Benisheikh e Dikwa”, disse Dobbs aos repórteres no Palácio das Nações, em Geneva.

A assistência do governo e de agências humanitárias foi reforçada na região a fim de ajudar as pessoas em 16 distritos de Borno que se tornaram acessíveis recentemente. O ACNUR e seus parceiros têm acesso restrito a 10 destes distritos, onde cerca de 800 mil pessoas precisam de ajuda urgentemente.

Dobbs disse que parte dos que agora retornam aos locais libertados, vindos da capital de Borno, Maiduguri, parecem estar felizes por voltar, citando as terríveis condições nos lugares onde estavam vivendo, incluindo campos para deslocados internos.

Ele ressaltou que o ACNUR está preocupado com o bem-estar das pessoas que estão retornando para áreas que foram devastadas pelo Boko Haram. Muitos dos deslocados internos voltarão para casas destruídas e sem infraestrutura, em áreas que carecem cuidados de saúde e outros serviços.

“Os retornos deveriam ser voluntários, dignos e seguros. As pessoas deveriam ser informadas sobre as condições de suas áreas de origem”, disse Dobbs.

“O ACNUR está em contato regular com as autoridades e elevamos nossas preocupações, oferecendo-nos a trabalhar de maneira próxima com elas para garantir que os retornos aconteçam de acordo com as normas internacionais, garantindo suas respectivas dignidades e seguranças. Nós continuaremos monitorando a situação dos retornados, especialmente dos mais vulneráveis”, ele adicionou.

Um grupo de mulheres caminham em frente às ruínas do antigo palácio do Emir em Gwoza, Nigéria. © ACNUR/Hélène Caux

Saeed, de 38 anos de idade, está entre as milhares de pessoas que estão enfrentando enormes desafios em Gwoza, uma cidade a 40 quilômetros da fronteira com os Camarões, que foi libertada pelas forças nigerianas em março. Ele é incisivo a respeito das atuais necessidades dos habitantes da cidade: “Nós precisamos de tudo”.

“A comida é um problema. Nós somos agricultores, mas devido a insegurança que continua prevalecendo nos arredores de Gwoza e em outras cidades, ainda não podemos plantar em nossos terrenos”, Disse Saeed, descrevendo as incertezas destes que retornaram à cidade que fica à 150 quilômetros de Maiduguri, a capital do estado de Borno, localizado ao nordeste da Nigéria.

O ACNUR e seus parceiros ampliam suas operações no nordeste do país, garantindo a segurança e o acesso dos necessitados, especialmente daqueles residentes das áreas de acesso mais recente, sendo estas um grande desafio. Uma maior resposta humanitária e presença na área é urgentemente necessária, e os esforços de ajuda devem ser melhor coordenados, assim como a coleta de dados melhorada.

“Grande parte dos deslocados são mulheres, crianças e idosos. As questões de prioritárias das quais o ACNUR e seus parceiros estão trabalhando incluem abrigo, alimentação, fornecimento de água potável e itens de saúde, incluindo a prevenção de desnutrição e de cólera”, disse Dobbs.

“Questões de proteção incluem violência sexual e de gênero, das quais temos tido sucesso por meio da atuação de grupos comunitários de proteção que encorajam o diálogo e a conscientização”.

No terreno, o ACNUR continua trabalhando com parceiros locais para garantir o monitoramento vital de proteção em Bama, Monguno, Damboa, Konduga, Mafa, Dikwa, incluindo os distritos de Biu, Bayo, Hawul, Shani e Kwaya Kusar, ao sul de Borno.

A Agência da ONU para Refugiados também forneceu 200 abrigos para mil pessoas em Bama e tem distribuído itens não-alimentares para 16 mil pessoas nas últimas duas semanas. A ajuda inclui 10 mil itens distribuídos na cidade de Banki, na fronteira entre Camarões e Nigéria. Em Maiduguri, o ACNUR construiu quase 2 mil abrigos semi-permanentes para cerca de 10 mil pessoas e está construindo abrigos de emergência para outras 5 mil pessoas em Dikwa.

A insurgência no nordeste da Nigéria deslocou à força mais de 2,25 milhões de pessoas desde 2014, incluindo 2.066 milhões de pessoas para outras regiões do país e quase 190 mil refugiados para os países vizinhos Camarões, Níger e Chade. Embora o governo tenha revertido os ganhos territoriais do Boko Haram desde o ano passado, a insurgência transformou-se em ataques terroristas e continua uma ameaça em potencial.