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ACNUR celebra o Dia Mundial do Refugiado em Brasília com atividades multiculturais

Filmes, artesanato, dança, culinária, exposição fotográfica, projeções ao ar livre, debates, música.

Brasília, 21 de junho de 2016 (ACNUR) – Filmes, artesanato, dança, culinária, exposição fotográfica, projeções ao ar livre, debates, música. Foi por meio desta pluralidade de linguagens artísticas e culturais que a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) celebrou o Dia Mundial do Refugiado em Brasília/DF.

No último domingo, véspera do Dia do Refugiado, no Cine Brasília, refugiados e imigrantes foram protagonistas do Cine MigrArte, que proporcionou uma imersão na cultura das nações de diferentes países que integram a realidade de quem vive no Distrito Federal, de forma realista e positiva.

Após a abertura realizada pelo projeto Akwaba, que mostrou um pouco da variedade de ritmos e danças de Gana, a nova Representante do ACNUR no Brasil, Isabel Marquez, afirmou ser “uma honra e um privilégio estar no Brasil e sentir aqui a energia dos irmãos africanos, continente em que trabalhei por 20 anos. É com muito apreço que saúdo aos refugiados e refugiadas de diferentes nacionalidades e que encontram no Brasil uma forma de reconstruir suas vidas com dignidade e respeito”.

Na sala de cinema aconteceram projeções de curtas do Festival do Minuto, que teve este ano como tema “Refugiados”, além do lançamento do documentário “A Linguagem do Coração”, de Silvana Nuti, e a exibição da animação “Morte e Vida Severina”, de Afonso Serpa. Ao mesmo tempo, no saguão do tradicional cinema de Brasília, acontecia a feira cultural “Sabores do Mundo”, onde os visitantes puderam conhecer mais sobre tecidos africanos, artesanatos de El Salvador e, logicamente, degustar pratos típicos da Síria e do Paquistão.

© UNHCR/L.F.Godinho

“Há dois anos moro no Brasil e gosto muito de ver que as pessoas se interessam por aquilo que eu cozinho”, disse Sayd, de 33 anos, refugiado do Paquistão. Ele e um amigo brasileiro vendiam rotí, um típico sanduíche que aprendeu a fazer com a mãe. “O segredo não está nos ingredientes, mas sim na forma de preparar a massa que nada mais tem além de água e farinha”. Foram mais de 130 rotís vendidos, sem que Sayd comesse nenhum, pois está de jejum durante o ramadã.

Para fechar o evento, houve um debate com especialistas sobre a temática do refúgio e migrações, desconstruindo tabus que frequentemente são postados nas redes sociais. Na opinião do professor e pesquisador da UnB, Leonardo Cavalcanti, “refugiado ou imigrante, negro ou homossexual, não representam grupos à parte da sociedade e ao mesmo tempo não são homogêneos em si, mas devem sim ter seus direitos respeitados”. Nessa mesma linha, o Defensor Público Federal, Eduardo Nunes de Queiroz, disse ser importante lembrar “que os refugiados contribuem culturalmente, socialmente e economicamente para o país, dispostos a enriquecer de diferentes formas nossa sociedade”.

Já no Dia do Refugiado, 20 de junho, o Museu Nacional acolheu a abertura da exposição fotográfica “Vidas Refugiadas”. A exposição traz ao público uma oportunidade de reflexão sobre a adaptação de mulheres refugiadas ao Brasil, com um recorte de gênero que revela as necessidades, os dilemas e as conquistas de oito mulheres retratadas, provenientes de sete diferentes países: Nigéria, Cuba, Síria, República Democrática do Congo, Angola e Burkina Faso.

Na abertura, houve um debate com a nova Representante do ACNUR, Isabel Marquez, com a Coordenadora Geral do CONARE, Maria Beatriz Nogueira, e com duas solicitantes de refúgio que integram a exposição: a Nigeriana Nkechinyere Jonathan e a cubana Maria Iglesias.

© UNHCR/L.F.Godinho

Maria é jornalista e historiadora, tem 51 anos e foi forçada a deixar seu país porque atuando em sua profissão, passou a ser perseguida pelas forças policiais do país. Maria é autora do livro Africanidades, que será divulgado na Feira do Livro de Brasília, em julho. Para ela, “o refugiado pode ser qualquer pessoa e deve ser olhado como alguém não somente com direito à vida, mas a uma vida digna, pois quando chega a um outro país procura estabelecer uma relação de troca e não de dependência”.

Jonathan é casada, mãe de quatro filhos, mas vive só no Brasil. Foi forçada a deixar seu país, sua família e sua vida como professora na Nigéria devido ameaças do grupo extremista Boko Haram, que sequestrou suas alunas, fechou sua escola e matou professores que lecionavam com ela. Jonathan é uma das personagens que integra o site www.diadorefugiado.org, criado pelo ACNUR em celebração ao Dia Mundial de Refugiado. As artes desta campanha foram projetadas na parte externa do museu durante a noite do dia 20 como forma de dar ainda mais visibilidade a esta importante data global.

O número sem precedentes de mais de 65 milhões de solicitantes de refúgio, refugiados e deslocados internos pelo mundo, reflete a história de vida de pessoas que, para escapar da violência, deixaram tudo para trás – tudo, exceto a esperança e o sonho de um futuro mais seguro e digno.

A exposição fica em cartaz no Museu Nacional até o dia 24 de julho, podendo ser visitada de terça a domingo, entre 9h e 18h30.

Por Miguel Pachioni, de Brasília.