Menos de 24 horas depois, Nyagua deu a luz a gêmeos

Nyagua, à esquerda

Nyagua, à esquerda (Foto: ACNUR / L.F.Godinho)

Nyagua estava nos seus últimos dias de gravidez quando a guerra estourou na cidade de Malakal, Sudão do Sul, em 24 de dezembro, cerca de 6h da manhã. Ela apenas teve tempo de chamar sua mãe e seu filho mais velho e correr para a base da United Nations Mission in South Sudan (UNMISS) em busca de proteção. Menos de 24 horas depois, ela deu a luz a gêmeos, dentro da base da ONU. Ambos (o menino e a menina) nasceram sob o som de bombas e tiros. “Nós estávamos com medo e essa era a única opção que tínhamos”, disse Nyagua.

No entanto, a situação na base da ONU se tornou insustentável, havia muita gente e pouca comida. Posteriormente, mesmo aqueles que estavam dentro da base da ONU foram atacados por diferentes grupos armados, criando uma situação caótica. “Então, decidimos ir para Nassir”, ela recorda. Nesse momento, ela já havia perdido contato com o marido, que estava envolvido no conflito.

A viagem para Nassir foi particularmente um desafio para Nyagua. Além do recente nascimento dos gêmeos e do seu filho mais velho, ela tem uma deficiência na perna direita, que faz com que caminhe com bastante dificuldade. “Meu pai e meu irmão me levaram nas costas”, afirma Nyagua. Como resultado dessa dolorosa jornada, Nyagua e sua família levaram 25 dias para chegar a Nassir, perto da fronteira com a Etiópia.

Infelizmente, Nyagua e sua família tiveram que se deslocar de Nassir quando o conflito entre governo e oposição atingiu a cidade. Novamente, eles foram forçados a se mudar e, finalmente, chegaram à Etiópia no ponto de entrada conhecido como Burubiey, às margens do Rio Baro. De lá, eles foram realocados para o campo de refugiados de Kule, onde atualmente estão estabelecidos, vivendo em uma tenda familiar de emergência fornecida pelo ACNUR.

“Eu sinto falta do Sudão do Sul porque nós tínhamos amigos, uma boa casa e as crianças frequentavam a escola. Eu não sei onde meu marido está e muitas pessoas estão sofrendo por causa da guerra”, disse Nyagua.

Felizmente, ela está sendo ajudada pela mãe (Sarah Nyayual) e pela irmã (Micheon Puol) – ambas vivem na mesma tenda no campo de refugiados de Kule 01. “Eu tenho a ajuda de minha irmã e de seus filhos, que cozinham e lavam as roupas”, disse Micheon. “Depois da guerra, voltaremos ao Sudão do Sul”, espera Sarah.

Por Luiz Fernando Godinho, no campo de refugiados de Kule 01, em Gambela, Etiópia.


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